''Ando na contramão do gosto popular''

Hermínio Bello de Carvalho - POETA, PRODUTOR E COMPOSITOR

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Por Redação
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Além de ser um dos mais importantes produtores da história da música popular brasileira, o poeta e compositor Hermínio Bello de Carvalho é dono de um acervo de 40 mil itens - entre arquivos de foto, áudio e texto -, 10 mil deles estão disponíveis no www.acervohbc.com.br, no ar desde o último dia 10. No site, o internauta pode ver fotos do casamento de Cartola, gravações originais de Paulinho da Viola, Clementina de Jesus, Dalva de Oliveira e Tom Jobim, correspondências inéditas com Elizeth Cardoso, Carlos Drummond de Andrade e Oscar Niemeyer e quadros de Di Cavalcanti e Heitor dos Prazeres, além de letras, inclusive inéditas, que ele produziu com diversos parceiros: Cartola, Pixinguinha, Nelson Cavaquinho, Jacob do Bandolim, Radamés Gnattali, Mauricio Tapajós, Heitor Villa-Lobos, Eduardo Gudin, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Sueli Costa e Dona Ivone Lara. Em 1964, o carioca Hermínio Bello de Carvalho mostrou ao País o talento de Clementina de Jesus, cantora que, no ano seguinte, foi uma das estrelas do musical Rosa de Ouro junto com Aracy Côrtes, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e Anescarzinho do Salgueiro. Além de Rosa de Ouro, produziu, entre outros, o show com Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e o Época de Ouro. Na Fundação Nacional da Arte (Funarte), entre os anos 70 e 80, ele criou os projetos Pixinguinha (com espetáculos nacionais a preços populares), Lúcio Rangel de Monografias (livros sobre MPB), Almirante (edição de discos alternativos), Radamés Gnattali (educação musical) e Ary Barroso (difusão da música brasileira no exterior). Ele é autor de Embornal, livro de poemas. Grande parte da sua obra musical está na caixa Timoneiro. Qual disco ou música mudou sua maneira de ver o mundo? O Canto do Pajé, de Villa-Lobos, ou Ingênuo, tocado pelo próprio Pixinguinha. Ou a Aleluia, de George Friedrich Händel, que ficava ouvindo à porta do apartamento do maestro Siqueira, ele acompanhando sua mulher - a soprano Alice Ribeiro. Que artista mais o influenciou? Walter Wendhausen, artista plástico que me desvendou o universo de Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa, e me apresentou à voz de Aracy de Almeida, o jazz de Louis Armstrong e Nellie Lutcher, o universo de Pablo Picasso e Amedeo Modigliani. Que obra você detestou à primeira vista e passou a venerar depois? Eu detestava Vicente Celestino, e ouvindo a gravação do O Ébrio, pelo Caetano Veloso, passei a prestar atenção àquela voz operística, que - pouca gente sabe - integrou o elenco da ópera Izaht, de Heitor Villa-Lobos. Qual disco ruim você adora ouvir, mas tem vergonha de dizer que gosta? Felizmente, não tenho esses pudores. Existe um disco antigo da Odete Amaral, em que ela gravou com Cyro Monteiro Jr. apenas músicas de presidiários, chama-se Do Outro Lado da Vida - Os Que Perderam a Liberdade Contam Assim Sua História. Nem classificaria de ruim, mas de exótico. Qual artista que você não acha tão bom, mas que todo mundo acha? Confesso que ando na contramão do gosto popular. Qual disco você comprou levado pela opinião alheia e odiou? Meus amigos são todos (ou quase todos) muito musicais. Não me lembro de alguém ter-me ofertado um desprazer desses. Que música de outro você gostaria de ter composto? Muitas do Chico Buarque (mas muitas mesmo). Gostaria de ter composto Um Índio, do Caetano Veloso, e o Mané Fogueteiro, do Braguinha. Qual disco de sucesso deixa você com inveja por não tê-lo feito? Inveja? Esconjuro. O disco da Simone com a Zélia Duncan - Amigo É Casa -, eu, honestamente, adoraria ter produzido. Qual clássico da MPB você acha que não merece esse título? Acho um horror qualquer lista dos "dez mais de todos tempos". Tenho horror (ou fastio) do Só Danço Samba, que é feito por um gênio chamado Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim em parceria com Vinicius de Moraes. Qual canção considerada clássica mereceria uma letra melhor? Só Danço Samba. Qual disco você acreditou que seria ótimo e frustrou suas expectativas? Dois discos, que procurei à exaustão: um é De Leve, de Ciro Monteiro e Jorge Veiga, e outro é da Leny Eversong com o Cauby Peixoto - Um Drink com Cauby e Leny. Qual disco fez você passar uma noite em claro analisando o que tinha ouvido? O único registro que conheço de Carmen McRae and Betty Carter Duets, um primor. Duas divas, duas mestras do canto. O What?s New com elas é sublime. Os discos de Ella Fitzgerald com Louis Armstrong até hoje me emocionam, assim como de Jacques Brel e Piaf. E Pastora Pavon, La Niña de Los Peines. E, agora, o Diego El Cigala. Acabo de ganhar uma coleção de 5 CDs dele, que vai somar-se à genialidade do Blanco Negro (DVD), dele com o pianista cubano Bebo Valdés. Qual você nunca deixa de ouvir? A Bachianas Nº 5. Você é mais Caetano Veloso ou Chico Buarque? Maria Bethânia ou Gal Costa? Por quê? Marlene ou Emilinha - é isso? São vinhos de safras distintas. De qual compositor(a), grupo ou cantor(a) você tem todos os discos? Tenho tudo do Paulinho da Viola, do Chico Buarque, do Caetano Veloso e quase tudo da Maria Bethânia. Qual unanimidade da MPB sobre a qual você não tem interesse? Digo sempre que meu forte é prestar atenção às coisas, e não ao que as pessoas pensam dessas coisas. Aponte um disco que considera um clássico instantâneo. Vamos pelo conjunto de obras: Radamés Gnattali, The Modern Jazz Quartet, os songbooks de Ella Fitzgerald e - desculpe a imodéstia - o disco de Elizeth Cardoso com Jacob do Bandolim, conjunto Época de Ouro e Zimbo Trio, gravado no Teatro João Caetano, em 1958. DEPOIMENTO A FRANCISCO QUINTEIRO PIRES Galeria Louis Armstrong: o seu jazz é grande influência. Paulinho da Viola: Hermínio tem todos os discos dele. Caetano: produtor gostaria de ter composto Um Índio.

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