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Agnès Jaouï fala da chuva, amores e família em novo filme

Atriz e seu parceiro na vida e arte, Jean-Pierre Bacri, apresentam Parlez-Moi de Pluie e reverenciam o mestre Alain Resnais

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

São Paulo? À simples menção da cidade, os olhos de Agnès Jaouï iluminam-se e ela abre um grande sorriso? "Le Brésil? J?adore!" Ela adora o Brasil. Está sendo sincera. Agnès e Jean-Pierre Bacri, seu parceiro na arte e na vida, encontram-se com o repórter do Estado no Grand Hotel Intercontinental, na região da Opéra. É o último dia dos Rencontres du Cinema Français e Agnès e Bacri falam de seu novo filme, Parlez-Moi de Pluie (Fale-me da Chuva), que ambos escreveram e ela dirige. O título vem de uma canção de Georges Brassens, que diz: "Fale-me sobre a chuva, não sobre o bom tempo/O bom tempo me faz perder a cabeça e ranger os dentes." Um cara que escreve isso só pode ser inconformista, diz Agnès e acrescenta outra informação. "As pessoas são muito sugestionáveis pela temperatura. A chuva as coloca para baixo. As mulheres, mais ainda." O filme nasceu de um desejo dela e de Bacri de falarem sobre o cinema. E de trabalhar com Jamel Debbouze, um dos grandes astros - de ascendência árabe - do cinema francês atual. "Jamel é reconhecido como comediante, mas o conhecemos bem e escrevemos esse papel que se assemelha ao Jamel da realidade, não do cinema." Bacri e ele fazem um documentário sobre Agnès, que conhecem bastante, e ela é candidata a um cargo político. A personagem é calcada na atriz, uma feminista de carteirinha, e autoritária. A filmagem parece uma comédias de erros. "Usamos incidentes de vários sets de que participamos." Parlez-Moi de Pluie assemelha-se aos filmes anteriores de Agnès, especialmente O Gosto dos Outros, mas é diferente. "Deve ser efeito da maturidade, mas acho que essa foi a filmagem mais relaxada da minha carreira. Com o tempo, a gente percebe que nada é definitivo e que as decisões num set são menos graves do que parecem." É um filme sobre família, amores e cinema. Parece ter sido feito na base da improvisação, mas foi 100% escrito e filmado de acordo com o roteiro. "Improvisar não dá certo conosco", diz Bacri. Talvez seja uma influência do maior de todos os diretores com que Agnès e ele trabalharam. Ambos ficam contentes de saber que Beijo na Boca, Não, de Alain Resnais, está em cartaz em São Paulo. "Alain não escreve uma palavra de seus roteiros, mas gosta de trabalhar com os mesmos atores (Pierre Arditi, Sabine Azéma, etc.) e filma com tanto rigor, que sua assinatura é indiscutível. Stanley Kubrick dizia que cinema é 100% montagem. Cada etapa é fundamental, mas, sim, na montagem pode-se construir um filme diferente do que foi escrito. Resnais serve ao roteiro, mas por que nele já chegou exatamente ao que queria. E, depois, cinema é som. Não creio que exista outro autor que faça um trabalho de som tão sofisticado. David Lynch, talvez. Nuit et Brouillard marcou uma revolução no som do cinema, nos anos 50. O som, em Beijo na Boca, Não, continua sendo a marca da assinatura de Alain. É o maior artista vivo do cinema francês e, quem sabe, do mundo."

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