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Afirmação da latinidade e um punhado de pérolas raras

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Por Redação
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O autor do projeto Camaleão é o pesquisador Rodrigo Faour, também responsável por trabalho semelhante com a discografia de Maria Bethânia, realizado em 2007. Faour entrevistou Ney Matogrosso para contar histórias relacionadas às canções e aos discos, o que resultou em textos reveladores, cheios de detalhes. Daria para fazer um livro de curiosidades. Ouça Açúcar Candy e as Ilhas Num desses encartes, no de Pecado, o cantor fala de sua "consciência latina". Mato-grossense do sul nascido na fronteira com o Paraguai, neto de argentino e paraguaia, ele quis "trazer a América Latina para o Brasil", para que o País tomasse consciência de que faz parte dela. Essa característica é marcante em toda a sua carreira musical desde Sangue Latino (ainda com os Secos & Molhados) até hoje. Ney abria o primeiro álbum-solo com uma espécie de manifesto - América do Sul (Paulinho Machado). Além disso, desencavou o mambo Coubanacan e incluiu na embalagem um compacto com As Ilhas e 1964 (II), gravadas em Milão com o mestre renovador do tango argentino Astor Piazzolla. As duas canções entraram como faixas-bônus na edição em CD. San Vicente (Milton Nascimento/Fernando Brant), Dos Cruces (Carmelo Larrea), Bandolero (Luli/Lucina), Bandido Corazón (Rita Lee), Paranpanpan (De Carlo)e Airecillos (folclore espanhol) são outras dentre as muitas canções de acento latino em sua discografia, que ganharam interpretações marcantes. É a latinidade de Las Muchachas de Copacabana (Chico Buarque), aliás, o que se salva de Bugre. Camaleão traz outras curiosidades inéditas em CD. Uma delas é o registro da apresentação do cantor na Brazil Night do Festival de Montreux em 1983. O álbum tem só quatro gravações de Ney, as outras são de Caetano Veloso e João Bosco. Há também outro registro de show, Ney Matogrosso ao Vivo (1989), em que faz uma espécie de síntese da carreira. Outros clássicos, sucessos, gravações obscuras e divertidas (como Seu Valdir, de Marco Polo), lançadas em compactos, projetos especiais, álbuns alheios, material de sobras de LPs estão na saborosa compilação Pérolas Raras. Entre as raridades estão dois duetos com Fagner (Postal de Amor e Ponta do Lápis), outros com Joyce (Nacional Kid), Arrigo Barnabé (Mente, Mente) e Os Trapalhões (Cochabamba), versões em espanhol de Bandido Corazón e Bandolero e a gravação inédita de Saudades do Meu Barracão (Ataulfo Alves). Desprezado pela gravadora CBS na época, Quem Não Vive Tem Medo da Morte (1988) também não deixa de ser uma pérola rara. O título saiu de um verso da canção Chavão Abre Porta Grande, parceria de Ricardo Guará com o "maldito" paulista Itamar Assumpção, que Ney gravava pela primeira vez. Há outras duas belas canções de Caetano Veloso (Dama do Cassino), Chico Buarque e Cristóvão Bastos (Todo o Sentimento). Em Recompensa (Jorge Aragão/Jotabê), Ney incursiona pela batida do samba-reggae, então ascendente na Bahia, mais uma sugestão de Mazzola, que não é muito a cara do cantor, mas acabou ficando bom. Afinal, como afirma o cantor, este disco já veio filtrado pela estética de Pescador de Pérolas , ou seja precisava de pouca coisa para conseguir bom efeito.

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