Acesa, a Alcione dos sambas e do amor carnal

Ela fala com a desenvoltura e a graça de sempre, mesmo quando o assunto é a ligação com José Sarney

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

"Eu sou mesmo acesa, não sou mulher que se ache em qualquer fila do Bradesco!" Quem diz é Alcione, a mulher da voz potente, aplique ruivo nos cabelos e unhas longas e decoradas. A brincadeira é com o nome do novo CD, Acesa (SonyBMG), título da faixa assinada por Telma Tavares e Roque Ferreira, que segue a linha mulher-madura-que-sabe-o-que-quer de canções como A Loba. Ouça trecho da faixa Acesa "Quem me tem assim acesa/ Fica sem defesa para o meu amor/ Só come gostoso se for no meu prato/ Só sonha bonito no meu cobertor." Dama da Paixão (Jefferson Junior/Umberto Tavares) também é ousada: "Eu me preparei inteira pra você/ Clima à luz de vela só pra te acender." "O universo do samba é muito machista, eles acham que são os únicos que podem dizer o que querem. Mas que homem não gostaria de ouvir isso?", indaga a cantora maranhense. Com show de lançamento previsto para outubro, em São Paulo (a escolha é de Alcione, que sente saudade do público da cidade), o CD tem 14 faixas, divididas entre sambas românticos (Eternas Madrugadas, de Fred Camacho e Cassiano Andrade, Não me Peça Pra Ficar, de Valtinho Jota e Andrea Amadeus, Quem Dera, de Reinaldo Arias e Paulo Sergio Vallem, e Sinuca de Bico, de Claudemir, Elcio do Pagode e Serginho Meriti) e mais agitados (O Samba me Chamou, de Marquinho PQD e Sombrinha, com participação do grupo Revelação, Nair Grande, de Telma Tavares e Paulo Cesar Feital, Chutando o Balde, de Nei Lopes, com Wilson Simoninha). O CD também tem outros ritmos - em Eu Não Domino Essa Paixão, que abre o disco, ouve-se até tango. Foi sugestão da cantora. "Adoro! Um dia ainda gravo um disco de tangos e boleros...", diz a Marrom, que também pensa num de blues e jazz, tendo como inspiração suas cantoras favoritas, Ella Fitzgerald, Aretha Franklin e Sarah Vaughn. A divertida Casa da Mãe da Gente (Junior Rodrigues/ Gilson Nogueira) foi trazida de um pagode de Manaus pelo produtor do disco, Jorge Cardoso. A toada Imperador Tocantis é do compositor maranhense Carlinhos Veloz. Encomendada pela novelista Glória Perez, Eu Vou Pra Lapa (Serginho Meriti/ Claudinho Guimaraes) foi lançada na novela Caminho das Índias, na qual fez participação recente. O Sono dos Justus (Marcus Lima/Marcio Proença/ Rodrigo Sestrem) tem letra delicada. Para cantar com ela no novo álbum, Alcione chamou o grupo Revelação, em O Samba Me Chamou, e Wilson Simoninha, em Chutando o Balde. São músicas que ela escolhe na base da intuição, como diz que vem fazendo há 34 discos. "Quando você ouve, vê que te pegou. Se me arrepia, vai arrepiar os outros." Alcione pensa simples assim. Usando da mesma lógica, fala do amigo e conterrâneo José Sarney. Conta que jamais cogitaria negar ao senador seu apoio, mesmo quando praticamente todo o País está contra ele. "O Maranhão não tem culpa se o Senado virou um antro de fuxico. Eu tenho muita amizade com o senador. Quando a gente é amigo, é nas alegrias e nos infortúnios. Quem quiser que julgue José Sarney; eu não vou julgar. Ele nunca me deu um emprego, disso todo mundo sabe!" De trabalho a cantora, de 61 anos, não foge mesmo. Em setembro, canta em Nova York e em Moçambique. Depois de São Paulo, estreia no Canecão. A entrevista acaba e alguém chama Alcione em seu aparelho de rádio, de cor vermelha. O toque é o tema da novela A Escrava Isaura: "lerê lerê..."

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