PUBLICIDADE

A volta do bom e velho John Falstaff

Osesp toca obra de Verdi com regência de Isaac Karabtchevsky, primeiro brasileiro na lista de substitutos de John Neschling

Foto do author João Luiz Sampaio
Por João Luiz Sampaio
Atualização:

Ponto alto de uma carreira? Síntese da busca por uma linguagem pessoal? Falstaff, última ópera de Giuseppe Verdi, que a Osesp apresenta de hoje a domingo na Sala São Paulo, pode apontar respostas nas duas direções. Todos os temas caros ao compositor estão ali: dramas pessoais e a maneira como dialogam no convívio social; a obra de Shakespeare como inspiração; a criação de uma nova escrita orquestral, de acordo com a proposta do enredo. E em poucos momentos da fase final do compositor eles alcançaram nível tão bem acabado de execução. Falstaff já estava programado desde o ano passado e seria comandado pelo maestro John Neschling. Com sua saída da Osesp, em dezembro, ficou a cargo de Isaac Karabtchevsky. Os olhos se voltam ao pódio. Regente da Sinfônica da Petrobrás, da Sinfônica de Porto Alegre e da Orquestra do Vale do Loire, na França, Karabtchevsky é o primeiro brasileiro na lista de maestros que vão substituir Neschling ao longo deste ano. A última vez que comandou a Osesp foi em 2000, em um concerto dedicado a Bartók. Está de volta. E tem um belo desafio pela frente. A partitura de Falstaff exige uma orquestra grande - mas, em determinados momentos, é como se o conjunto se fragmentasse em pequenos agrupamentos de câmara, com passagens de enorme dificuldade de execução. O estilo se presta à história, inspirada na peça As Alegres Comadres de Windsor. Sir John Falstaff, velho glutão e falido, tenta conquistar as damas Alice e Meg, de olho no dinheiro de ambas. Seus ajudantes, no entanto, o traem e contam seus planos ao marido de Alice. Morto de ciúmes, ele trama para pegá-lo em flagrante sem saber que as mulheres também arquitetam seu próprio estratagema para desmascarar Falstaff. Albert Schagidullin interpreta o protagonista. Daniil Shtoda (Fenton), Leonardo Neiva (Ford), Oliver Ringelhahn, (Caius), Marcos Thadeu (Bardolfo), Pepes do Valle (Pistola), Inna Los (Alice), Marisol Montalvo (Nanetta), Denise de Freitas (Meg) e Anna Kiknadze (Quickly) completam o elenco. A ambientação cênica é de André Heller. Serviço Falstaff. Sala São Paulo (1.501 lug.). Praça Júlio Prestes, s/n.º, Luz, telefone 3223 -3966. Hoje e 6.ª, às 20h30; dom., 16h30. R$ 30 a R$ 104 Preste atenção... ...na mistura de humor, cinismo e decadência na composição de Falstaff. É um dos mais ricos e complexos personagens recriados por Verdi, aqui ajudado pelo excelente libreto de Arrigo Boito. ...na segunda parte do primeiro ato, quando homens e mulheres formam dois grupos vocais distintos, que se misturam sem perder seu caráter específico. ...no dueto do segundo ato entre Ford e Falstaff. É símbolo do talento de Verdi na escrita para vozes graves. E, ao mesmo tempo, com sua proposta de mistura entre canto e fala, dialoga com momento do início da carreira do compositor, o dueto entre o bandido Sparafucille e o bufão Rigoletto na ópera Rigoletto. ...na maneira dinâmica com que Verdi cria os pontos altos do enredo, construindo aos poucos cada clímax, sempre com uma "pegada" cênica excepcional. Bom exemplo é a sequência, na parte dois do segundo ato, em que Falstaff chega para visitar Alice e, em seguida, chega Ford para vingar sua honra e surpreender sua mulher com o amante. Impagável.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.