A vida urbana recriada em imagens

Revista Cidades traz artigos que exploram a relação entre os cenários da vida pública e o comportamento nos grandes centros

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Por João Luiz Sampaio
Atualização:

"Os cenários da vida pública são os lugares onde se celebra a vida urbana e a linguagem pela qual se identifica um tipo de urbanidade particular. O que pode, no entanto, acontecer quando a localização e/ou a natureza desses lugares mudam? Parece-nos que há simultaneamente um movimento de mudança na própria identidade urbana que se opera." É tomando como ponto de partida a interação entre comportamento e urbanização que chega às bancas o novo número da revista Cidades, editada pelo Grupo de Estudos Urbanos. O volume marca uma mudança de foco na publicação, que agora passa a ser temática. No espírito dessa interação é que se articulam os textos de Imagens da Cidade. A escolha é explicada na apresentação de Paulo Cesar da Costa Gomes e Vincent Berdoulay. "Quase todas as cidades possuem certos espaços que são privilegiados em relação aos outros. Às vezes, uma praça, jardins, um conjunto de ruas, um cruzamento de avenidas, pouco importa o modelo em sua origem, esses lugares concentram significações, são densos de sentidos, atraem o público e simbolizam a cidade. Esses lugares colaboram de forma fundamental na construção de imagens da identidade de cada cidade e sobre eles ocorre a cenarização da vida pública. Eles são assim os lugares onde se celebra a vida urbana e a linguagem pela qual se identifica um tipo de urbanidade particular." Costa Gomes, em seu artigo, assinado conjuntamente com Marcos Paulo Ferreira de Góis, elege como tema a representação da cidade nos quadrinhos, mostrando, por exemplo, que nas histórias de super-heróis "há uma predominância de grandes cidades que, ao serem percorridas pelos protagonistas, são por ele ressignificadas." "Desde os anos 30 até os quadrinhos mais recentes, é uma constante a representação de altos prédios, entremeados por avenidas onde circulam muitos veículos e pessoas. Isso parece possuir um significado original que reside na comunhão entre poderes espetaculares para responder aos grandes problemas que surgem nesse quadro das grandes cidades." Em linha parecida segue André Lima Alvarenga, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, cujo artigo analisa "a espacialidade urbana criada e colocada em jogo pelo videogame Grand Theft Auto: San Andreas", tentando mostrar "a particularidade e riqueza desse meio infográfico, interativo e hipertextual para uma análise geográfica". O filme Redentor, de Cláudio Torrer, é o ponto de partida para artigo de Maria Helena Braga e Vaz da Costa, que discute a relação entre a percepção e a experiência do espaço na produção cinematográfica. Também a partir de um filme - no caso, O Signo de Leão, de Eric Rohmer -, Alice Nataraja Garcia Santos investiga de que maneira a escolha das locações contribuem "na transmissão de significados e na compreensão dos sentidos da ação dramática". O que provoca a desordem pública? Ou melhor, ela "resulta da desobediência ou se projeta como uma imagem de uma nova ordem"? É tentando responder a essas perguntas que se constrói o ensaio de Iná Elias de Castro e Ataíde Teixeira, professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Já Laurent Vidal discute o uso político de imagens da cidade, seja em programas de marketing, seja para apoiar uma ambição política.

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