PUBLICIDADE

A vida de Machado só com imagens

A Olhos Vistos, livro organizado por Hélio de S. Guimarães e Vladimir Sacchetta, reúne material iconográfico inédito do escritor

Por Livia Deodato
Atualização:

Raras ou inexistentes são as imagens de infância e adolescência de um dos maiores romancistas brasileiros, Joaquim Maria Machado de Assis. A explicação para isso é o fato de o escritor ter praticamente nascido junto com a disseminação da fotografia pelo País - o autor de Dom Casmurro chegou à vida em 21 de junho de 1839 na quinta do Livramento, no Rio, quase duas décadas anteriores ao alcance da popularidade da atividade imagética, na mesma cidade. Hélio de Seixas Guimarães, professor de Literatura Brasileira da USP, se dedica há mais de dez anos exclusivamente ao estudo de Machado de Assis. Durante as suas pesquisas acadêmicas, notou um encorpado volume de imagens e retratos do fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL) nunca antes tornado público, muito menos reunidos. Embora incompleto se a intenção fosse montar uma cronologia iconográfica pela razão já citada, o extenso material encontrado consegue ilustrar o caráter determinado do escritor a partir de seus 20 anos, a austeridade alcançada aos 40 e um certo olhar melancólico adquirido por volta dos 60. Além disso, é também notável a ascensão social repentina: de origem modesta, o rapaz mulato de cabelos revoltos foi fotografado aos 25 anos por Joaquim Insley Pacheco, profissional contratado da "Casa Imperial". A justificativa de Guimarães está na apresentação da obra que será lançada hoje, A Olhos Vistos - Uma Iconografia de Machado de Assis (IMS), organizada por ele e pelo jornalista e produtor cultural Vladimir Sacchetta. "Como o jovem escritor, de recursos modestos, teria conseguido chegar a um dos estúdios de fotografia mais disputados da corte? Muito provavelmente pelos laços de amizade." Para preencher as lacunas de algumas fases da vida do escritor - o que tornou impossível a produção de uma fotobiografia machadiana -, Guimarães e Sacchetta tiveram a feliz idéia de completá-las com fotos do Rio do século 19, legendadas com trechos dos clássicos do autor. Dividido por décadas, o livro também apresenta, no início de cada capítulo, a cronologia de Machado, tanto pessoal quanto profissional. "Machado acompanha a mudança do Rio de Janeiro imperial para o Rio de Janeiro republicano moderno. Na produção da obra tivemos em mente essa sua relação com a cidade, que vai se transformando durante o período de vida do Machado. A cidade que viveu (e de onde nunca saiu) e que é cenário de sua obra ficcional", diz Guimarães. O capítulo 22 de Esaú e Jacó (1904) serve como legenda da foto ilustrada nesta página (e evidencia sua percepção sobre as transformações na então capital do Brasil): "Também a cidade não lhe pareceu que houvesse mudado muito. Achou algum movimento mais, alguma ópera menos, cabeças brancas, pessoas defuntas; mas a velha cidade era a mesma."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.