A vibração das cores de Amelia

A artista Amelia Toledo faz ode à positividade em sua nova exposição

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Por Camila Molina
Atualização:

É a pura vibração da cor que a nova exposição de Amelia Toledo concede aos visitantes. Nela estão pinturas, todas criadas entre 2008 e 2009, que na entrada da Galeria Nara Roesler, primeiro, se apresentam como espaços para terrenos mais estáticos em que prevalecem tons terrosos (são da série Horizontes), e depois, na outra sala, vão formando nas paredes arranjos, num conjunto, de laranjas, em outro, de azuis, verdes e roxos (os Campos de Cor). Há ainda outros dois trabalhos de experiências imersivas para o corpo, em Penetrável, da gradação sutil de cores em um caminho de camadas de juta pintadas e suspensas; em Labirinto de Azul, dentro de um percurso de folhas de aço espelhado. Como não poderia ter outro título, a exposição que Amelia Toledo inaugura hoje, às 20 h, para convidados e amanhã para o público se chama, simplesmente, VivAcor. "Considero todos estes trabalhos políticos, porque são contrutivo-positivos, estimulam atitudes esperançosas", diz Amelia Toledo. Aos 83 anos, com trajetória rica de criações nos mais diversos meios e gêneros, ela se considera uma artista (não pintora, escultora, etc.) que realiza séries. "Eu sou muito variante, artista e ponto. Desde o começo nunca senti limite", afirma ainda Amelia. Mas no caso dessa exposição que ela realiza na Galeria Nara Roesler, salta primeiro aos olhos a Amelia pintora, não importa se apresenta as telas mesmo de juta e pigmentos; se coloca no espaço da sala expositiva algumas de suas composições com pedras - jaspe, fucsita e quartzito azul -; ou se exibe trabalhos de raiz escultórica-instalativa. "Fazer pintura me faz muito bem, trabalhei bastante para esta exposição", conta Amelia, reverenciando Yoshiya Takaoka (1909-1978) como seu mestre. "Tive umas três ou quatro aulas com a Anita Malfatti (no fim da década de 1930), mas comecei a pintar mesmo com o Takaoka (com quem teve aula entre 1943 e 1947)." Mas muitos são seus mestres, em áreas diversas, como na arquitetura a convivência "muito estimulante" no trabalho na década de 1940 no escritório de Vilanova Artigas (1915-1985). Amelia não quer se prender a gêneros e conceitos, emenda que não se sente deteriorada, de maneira nenhuma, "com a velhice". "Sinto animação", continua ela, contando que seus projetos não param, entre eles, o de uma próxima obra pública para uma nova estação de metrô no Rio, que a artista está fazendo em parceria, mais uma vez, com o arquiteto João Batista Martinez Corrêa, com quem realizou, entre 1996 e 98, a da estação Arcoverde, e com seu filho, Mo Toledo. "Penso o piso da passarela como ondas, que poderão ter até caquinhos de conchas", diz Amelia, ainda não sabendo quando essa obra começará a ser concretizada. Amelia pintou bastante para a vibração positiva de VivAcor e não haverá visitante que não se sentirá contagiado pela exposição. A artista também fica contente por ter tido a oportunidade de fazer, assim, duas exposições em sequência em São Paulo: até domingo esteve em cartaz na Estação Pinacoteca mostra com mais de 20 obras da artista, perpassando sua carreira desde a década de 1950 e doadas ao acervo do museu - nesse conjunto de pinturas, esculturas e objetos há trabalhos emblemáticos da artista, como o livro-objeto Divino Maravilhoso, de 1971, feito em homenagem a Caetano Veloso, e exemplares da série de peças interativas e criadas com líquidos, a Glu-Glu, de 1968 (há também uma delas na Galeria Nara Roesler, agora). "VivAcor é um resumo proposital de parte da minha carreira, que não estava na mostra da Pinacoteca", diz Amelia. Os dois arranjos geométricos com grandes telas na imensa sala da galeria remonta a estudos que a artista realizou quase três décadas atrás. "Fazia em miniaturas", afirma Amelia. O Labirinto de Azul, no pátio interno da galeria, é de 1992 - nele temos a experiência da cor e do reflexo de nosso corpo nas chapas; a peça escultórica Sanfona de Azul, também se iniciou na década de 1990; e o Penetrável (nos tons de amarelos e vermelhos) é obra que remete a 1989. "Foi se desenvolvendo, se mexendo, comecei a criá-lo nos anos 70 e o primeiro que fiz era todo preto", conta a artista. Amelia diz que no período do regime ditatorial no Brasil sua prática era protestar. "Agora, é época de afirmar, quero cada vez mais essa positividade", afirma ainda essa criadora fundamental da arte brasileira. Podemos percorrer os espaços ou nos sentar nos bancos de pedras brasileiras e coloridas sobre bases de concreto. "A cor em Amelia Toledo quase sempre vem incorporada, nunca um elemento atmosférico, intangível, como uma qualidade do ar", escreve o crítico Agnaldo Farias no texto que acompanha a exposição. Serviço Amelia Toledo. Galeria Nara Roesler. Avenida Europa, 655, tel. 3063-2344. 10h/ 19h; sáb., 11h/15h (fecha dom.). Até 12/9

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