A trajetória do samba no Rio em 63 canções

Espetáculo que estréia hoje, no Carlos Gomes, põe no palco 16 atores-cantores coreografados por Carlinhos de Jesus

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

Depois das marchinhas de carnaval, das canções da era do rádio e do repertório de alguns de nossos maiores cantores, o samba, gênero brasileiro por excelência, ganha seu musical. Eu Sou o Samba, de Fátima Valença - mesma autora de Rádio Nacional - As Ondas Que Conquistaram o Brasil, Pixinguinha, Elis - Estrela do Brasil, Orlando Silva - O Cantor das Multidões e Dolores -, estréia hoje, no Teatro Carlos Gomes, no Rio. Em duas horas, a peça narra a trajetória do samba da década de 20 à de 70, do maxixe ao samba-enredo. O samba-canção, a bossa nova e outras derivações são mostrados como se ali desfilasse uma escola de samba, cujo enredo é a história do ritmo, desde a fase em que os sambistas eram perseguidos pela polícia à consagração em todo o Brasil. ''Faltava um musical que falasse sobre nossa marca registrada. Nada fala mais sobre nós do que o samba'', diz a produtora Claudia Vigonne. A direção é de Fabio Pillar (de Rádio Nacional); os 130 figurinos e a cenografia, de Rosa Magalhães e Dóris Rollemberg; a direção musical, de Helvius Vilela (que comanda sete músicos do fosso do teatro), com pesquisa de João Máximo. Inicialmente, ele chegou a 135 músicas. Ficaram 63. São clássicos dos clássicos, para a platéia cantar junto, começando com A Voz do Morro (Eu sou o samba/a voz do morro sou eu mesmo sim senhor), e passando por Jura, Pelo Telefone, Exaltação à Mangueira, Feitio de Oração, Se acaso Você Chegasse, Só Danço Samba, Diz Que Fui Por Aí, Onde a Dor Não Tem Razão e outras, chegando a Não Deixe o Samba Morrer. Carlinhos de Jesus assina a coreografia. Ele treinou 16 atores-cantores e apenas 4 já tinham noções de dança. Entre eles, destaca-se Claudia Mauro. A voz é pequena (como outras do elenco), mas ela dá show de samba e rebolado. ''Sou bailarina e uma atriz que canta. Recentemente, retomei minhas aulas'', afirma ela. Claudia, como Édio Nunes e Alice Borges, integrou o elenco do musical O Baile; de Gota D''Água, são egressos Sheila Mattos e Lilian Waleska; de Rádio Nacional, Silvio Ferrari e Marcelo Nogueira. Carlinhos conta que, para criar as coreografias, partiu da trilha. ''A música me reporta a uma época'', justifica. ''Fiz algumas pesquisas, por exemplo, de maxixe.'' A peça tem ainda Ana Carolina Machado, Bernardo La Rocque, Emilia Lins, Romeu Evaristo, Ronnie Arruda, Patricia Ferrer, Rodrigo França e Tiago Espíndula. A estreante Rafaela Fischer conta que só se animou para fazer o teste porque uns amigos insistiram. Detalhe: ela passou; eles, não. Rafaela, filha de Vera Fischer, está empolgada com a estréia. ''Tenho de segurar as lágrimas na hora de cantar Canção da Volta, de Dolores Duran.'' No enorme palco do Carlos Gomes - que já recebeu musicais como Ópera do Malandro e Império -, 25 cenários se sucedem. Os personagens transitam entre a Praça Onze do início do século 20 e a Avenida Rio Branco, por onde as escolas desfilavam antes da construção do Sambódromo. A Lapa, os morros, o Zicartola, bar aberto por Cartola e Dona Zica nos anos 60, a quadra da Mangueira, as boates do Beco das Garrafas, os cassinos, os barracões de escolas de samba, o Teatro Municipal, palco de Orfeu da Conceição, o Copacabana Palace e seus bailes elegantes - tudo isso está representado. Entre um espaço e outro, cantam e dançam passistas, mestre-sala e porta-bandeira, malandros, intérpretes e compositores (Adoniran Barbosa, Aracy de Almeida e Beth Carvalho são os únicos identificados; por conta de problemas com herdeiros, outros nomes que mereceriam estar incluídos ficaram de fora). Para chegar ao roteiro final, a autora penou - afinal, é muita história para se contar. ''Levei nove meses estudando. Li 109 livros!'', lembra Fátima. O pano de fundo do musical é a celebração do título de patrimônio cultural nacional concedido ao samba.

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