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A oportuna releitura da arte de Flexor

Depois da Europa, mostras celebrando o centenário do artista chegam à cidade

Por Maria Hirszman
Atualização:

Finalmente chegam a São Paulo as celebrações em torno do centenário de nascimento de Samson Flexor (1907-1971). Com a inauguração de uma mostra de desenhos, esta noite no Museu de Arte Contemporânea (MAC), na Cidade Universitária, e de uma exposição de aquarelas, amanhã, na sede paulistana do Instituto Moreira Salles, ampliam-se as possibilidades de leitura de sua obra, mostrando um rigor, uma intensidade e uma diversidade que vai bem além da imagem de construtivista geométrico ao qual ele é comumente associado. É bem verdade que o artista nascido na Bessarábia - atual Moldávia, onde no ano passado foi inaugurada a primeira das quatro exposições realizadas na Europa em sua homenagem - foi figura central do construtivismo nacional, mas sem jamais se submeter aos ditames dos "concretinos", como ele costumava definir a ortodoxia concretista. Quando chegou ao Brasil, em 1946, para uma primeira exposição organizada na Galeria Prestes Maia, ele fugia do horror da guerra e encontrou um país em plena efervescência. Foi muito bem recebido pelo público e anteviu as possibilidades abertas pela sintonia entre o sentimento abstracionista e geometrizante que já se sentia em sua obra e as movimentações em torno da arte moderna que agitavam a cena local. Voltou logo em seguida com toda a família e por aqui viveu até sua morte. Fez muitos retratos, decorou igrejas, ensinou toda uma geração de artistas as regras de estruturação da imagem, "de abstração das estruturas para dar ordem ao caos aparente", como resume seu filho, André Flexor. Responsável pela organização dessa seqüência de exposições, André ressalta que, apesar desse rigor que o pai dizia ser "o serviço militar do artista", há em sua obra "um grande lirismo, poesia e sensualidade". E aí estão os desenhos e aquarelas para comprovar essa visão mais ampla da produção de Flexor. No caso da exposição do Museu de Arte Contemporânea, Samson Flexor - A Dobra do Desenho, por exemplo, as orbas foram organizados em torno a grupos de força, tendo como principais pólos a organicidade (simbolizada na tela Carrasco, de 1968) e a construção. A exposição, com curadoria de Carmen Aranha, tem um claro intuito educativo e pretende, por meio do estabelecimento de um sistema de relações entre as obras explicitar o rigor e a evolução dessa produção. ASPECTO MAIS LÍRICO Se no MAC temos uma seleção intrincada de exercícios compositivos rigorosos, muitos deles funcionando como laboratório de preparação de obras maiores, no Instituto Moreira Salles a questão é diversa. A seleção de aquarelas - técnica que Flexor descobre já na maturidade e à qual se dedica de forma prioritária a partir do fim dos anos 50 - incorporam um aspecto mais lírico e poético, apresentam uma estrutura mais fluida. "Aí temos cor, luz e transparência", sintetiza André, que vê nessas exposições a possibilidade de exibir a obra do pai, extremamente respeitada pelos conhecedores da arte, em objeto de admiração do grande público. "Ele tem um modo de expressão muito pedagógico, que serve como uma bela introdução à arte moderna", afirma. São caminhos diferentes e complementares, que dão conta da força criativa e formal do artista que chegou ao Brasil já maduro, com uma formação sólida (Flexor era um digno representante da Escola de Paris, tendo freqüentado os ateliês de Léger, Picabia, Matisse e Signac, entre outros), mas que se engajou na busca de novos caminhos. "Seus momentos em geral são plenos, aliando intensidade e sensibilidade", conclui o filho do artista. Serviço Samson Flexor - A Dobra do Desenho. MAC-USP. R. da Reitoria, 160, telefone 3091-3039. 3.ª a 6.ª, 10 h/18 h (sáb. e dom. até 16 h). Até 21/9. Grátis. Abertura hoje, 19 h Samson Flexor - Aquarelas. IMS. Rua Piauí, 844, telefone 3825-2560. 3.ª a 6.ª, 13 h/19 h (sáb. e dom. até 18h). Grátis. Até 19h10. Abertura amanhã

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