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A natureza muito além da paisagem

No MAC Ibirapuera, 48 artistas, como Janaina Tsch?pe e Tadeu Jungle, se debruçam sobre a relação entre arte e ambiente

Por Maria Hirszman
Atualização:

Ocupando os cerca de mil metros quadrados que o Museu de Arte Contemporânea dispõe no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, a exposição Poéticas da Natureza debruça-se sobre uma questão cada vez mais presente na produção contemporânea: a relação intensa entre arte e ambiente, em seus mais variados aspectos. São 48 artistas de diferentes gerações, que lidam das maneiras mais distintas com aspectos candentes da relação do homem com a natureza que o circunda. Há desde jovens em início de carreira até figuras com uma trajetória já consolidada. E se a grande maioria é brasileira, também há espaço para artistas estrangeiros como Anne Cartault d''Olive e Tsuyoshi Ozawa. Esses embates, que ora priorizam o aspecto terrível da degradação e ora sintonizam-se para além do caráter destruidor dessa relação e colocam ênfase no que há de potência onírica, libertadora, na natureza, compõem um painel de rica diversidade, que procura ir além da noção de paisagem. ''Quando se pensa em natureza, se pensa em paisagem, mas essa é uma categoria historicamente criada, sobretudo desde o romantismo'', explica a curadora Katia Canton, na tentativa de definir as linhas gerais dessa etapa de seu projeto de mapear a produção nacional por temas e que já contemplou duas exposições anteriores (Auto-Retrato e Identidade e Natureza-Morta). Nesta terceira edição ela também buscou evitar outro equívoco comum em levantamentos do gênero, que seria a inclusão de trabalhos meramente ilustrativos do tema. Afinal, o desafio está em conseguir lidar com uma questão temática, sem que o tema se sobreponha às especificidades da expressão artística. ''Trata-se de um convite às pessoas para olharem com cuidado todas as cargas simbólicas, os enigmas que a arte propõe'', diz ela, que se surpreendeu com a quantidade de obras que encontrou voltadas para esse embate com a natureza, tanto que está até mesmo cogitando a possibilidade de realizar uma segunda edição sobre a mesma questão. Os trabalhos da mostra atual foram selecionados em torno de quatro módulos principais, numa espécie de crescendo entre a maneira clássica de representar a natureza e a tentativa de recriar fabulisticamente uma nova natureza. O primeiro deles é Natureza da Paisagem, com trabalhos de 10 artistas, em diferentes estágios da carreira, dentre eles Leda Catunda e Tadeu Jungle. Águas e Umidades é o título do segundo núcleo que, segundo a curadora, é uma das questões mais prementes da ecologia. Nesse bloco estão reunidos os trabalhos de autores como Sandra Cinto e Cao Guimarães. O terceiro núcleo, chamado Denúncia e Reconstrução, refere-se de forma ainda mais direta à questão da militância e reúne trabalhos que buscam explicitar as tensões latentes ou explícitas entre o homem e seu ambiente. É o caso do trabalho de Pazé, em que pequenos soldadinhos de chumbo movidos a bateria atiram num grande cenário de natureza. Por último vem o módulo Natureza Inventada, que encerra a mostra com um toque ao mesmo tempo metafísico e poético. Como diz a curadora, diante do desafio de se relacionar com um mundo que se transforma constantemente, artistas como Nazareno, Janaina Tschäpe e - por que não - a já clássica Maria Martins, respondem criando uma nova natureza. Serviço Poéticas da Natureza. MAC-USP Ibirapuera. Parque do Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, 3.º piso, portão 3, 5573- 9932. 3.ª a dom.,10 h/19 h. Grátis. Até 24/8

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