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A independência das sete cordas

O goiano Rogério Caetano lança CD totalmente autoral em que explora sem exibicionismos um violão solista e preciso

Por Francisco Quinteiro Pires
Atualização:

Aos 6 anos, Rogério Caetano começou a tocar um instrumento. Não podia dedilhar um violão porque o seu corpo era pequeno para segurá-lo. Contentou-se com o cavaquinho. Ao 12 anos, iniciou-se no violão. "Eu fui direito para o 7 cordas", diz o músico goiano. O responsável pela iniciação foi Dino 7 Cordas (1918-2006). Para ser mais exato, a sonoridade do violão de Dino gravada no disco clássico Elizeth Cardoso, Zimbo Trio, Jacob do Bandolim (1968), em que ele atua no Época de Ouro. Ouça trecho de Alma Boa A precisão das notas, sobretudo na região grave, nas interpretações de Dino impressionou Rogério Caetano. Os estudos evoluíram. Rogério foi chamado para gravações e shows de, entre outros, Zeca Pagodinho, Ivan Lins, Maria Bethânia, Dudu Nobre, Martinho da Vila, Monarco, Lenine, Ney Matogrosso, Leila Pinheiro, Nana Caymmi. E lançou Pintando o Sete (2006), o seu disco de estreia. Esse CD é marcado por formações instrumentais diversas e pelas participações, como Hamilton de Holanda e Yamandu Costa. O violão não é tão protagonista quanto em Rogério Caetano (Tratore), o seu disco mais recente, um trabalho maduro, de interpretação precisa, sem exibições de preciosismo. O CD traz 11 composições de Rogério, de 31 anos, que explora uma vereda aberta por Raphael Rabello (1962-1995): o violão 7 cordas como solista, quando vira um faz-tudo; como se tivesse a independência proclamada. "Quem colocou o 7 cordas como instrumento de frente foi o Raphael, a nossa grande referência", diz. "A gente está apenas trilhando o caminho dele". A gente, segundo Rogério, é o grupo formado por ele, Yamandu Costa, Marcello Gonçalves e outros violonistas que conseguiram criar uma identidade própria. Segundo o cavaquinista Henrique Cazes, na terceira edição do livro Choro - Do Quintal ao Municipal (Editora 34, 2005), Rogério Caetano "promete ser um capítulo adiante na história do violão de 7 cordas." Levando-se em conta que o futuro desse instrumento talvez esteja na síntese criativa entre os estilos de Dino e Raphael Rabello, Rogério segue pela trilha certa, incorporando diferentes elementos - jazz, rock, pop, além de ritmos latinos. Rogério Caetano conta com três participações. Eduardo Neves toca flauta em Meu Mundo. O pianista Leandro Braga atua em Intuitiva. O bandolinista Hamilton de Holanda participa de Brasília. "Quando chamei outros solistas para as músicas, era para destacar ainda mais a melodia", diz Rogério, autor dos arranjos. Pro Garoto é uma das faixas, homenagem ao multiinstrumentista Aníbal Augusto Sardinha (1915-1955). "Garoto é um gênio do violão, seu jeito de tocar é muito atual", diz. "Precursor da bossa nova, exerce uma influência gigantesca." Neste CD, o goiano pôde explorar mais seu violão Lineu Bravo, de cordas de nylon. "Que é melhor para fazer solos no 7 cordas." Em Voo dos Brasilianos, gravou dois violões, o Lineu Bravo com um instrumento de cordas de aço feito por Eduardo Britto, luthier de Brasília. A capital federal aparece duas vezes no CD porque Rogério nasceu profissionalmente para a música em Brasília, onde se estabeleceu em 1995. Além das gravações de discos antológicos, Rogério diz ter aprendido os macetes da música instrumental ao conviver com as feras do Clube do Choro. Ele não teve um mestre: "Só aprendi harmonia com Alencar 7 Cordas, o resto foi de ouvido." Naquele clube, atuou com Sivuca, Hermeto Pascoal, Altamiro Carrilho e Carlos Poyares. Foi professor da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello e da Escola de Música de Brasília. Integrou o Brasília Brasil com Hamilton de Holanda e Daniel Santiago - apresentaram-se pelo Brasil, EUA e Europa. Em 2004, formou-se pela UnB. Com Santiago foi semifinalista do Prêmio Visa de Música Brasileira em 2001, quando ganhou o prêmio de melhor intérprete do Festival Chorando no Rio. Neste ano, participou das gravações do DVD de Vanessa da Mata, de Samba Social Clube 3 e 4 e de Na Cabeça, CD do cantor Marcos Sacramento, no qual toca com os violonistas Zé Paulo Becker e Luiz Flávio Alcofra. Hoje mora no Rio.

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