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A importância do simples gesto humano

Ivaldo Bertazzo reestréia nos palcos como um clown em Kashmir Bouquet, ao lado de cerca de 60 ''''cidadãos dançantes''''

Por Livia Deodato
Atualização:

Loucura, para o coreógrafo Ivaldo Bertazzo, é o estado de pouca criatividade em que o corpo do ser humano se encontra. ''''Parece que as pessoas deram uma interrompida no processo do desenvolvimento motor. O corpo tem de representar, ser mais imaginativo, se não vai acabar virando um monólito'''', diz, com o seu usual bom humor. Ele condena o estado de constante aceleramento da vida e, conseqüentemente, do corpo humano que visam a acompanhar no mesmo ritmo a alta velocidade do mundo contemporâneo ao qual está inserido - e que acabam nos tornando mecânicos. ''''O ser humano, hoje em dia, sabe muito bem como acelerar, mas tem uma tremenda dificuldade em desacelerar'''', afirma. A fim de resgatar toda essa essência perdida, de onde se destacam os simples gestos, Bertazzo propôs aos seus cidadãos dançantes um espetáculo que mostrasse a importância de tais movimentos inatos ao homem, porém relegados. Até domingo, no Teatro do Colégio Santa Cruz, aproximadamente 60 pessoas, gordinhas e magrinhas, altas e baixas, pais e filhos, pretendem relembrar em Kashmir Bouquet a função primordial de nossos corpos. Durante um ano, eles desenvolveram esse trabalho, coordenados pelo coreógrafo, que tem por objetivo ''''libertar-se de hierarquias''''. ''''E aqui digo liberdade no sentido de conhecimento, de ter acesso a tudo o que foi conquistado durante todo esse século, e não no sentido de dar ''''soltura'''' ao corpo, pois isso o deterioraria.'''' A surpresa de Kashmir Bouquet fica por conta da participação especial de Bertazzo, que há cerca de 20 anos não dançava como intérprete. Ele sentiu a necessidade de levar de volta aos palcos a memória que seu corpo acumulou ao longo de todos esses anos. ''''É claro que eu já não apresento mais a elasticidade de um jovem, mas acho importante apresentar todas as experiências que conquistamos durante toda a carreira, que podem servir como referências.'''' O coreógrafo escolheu a figura de um clown para a sua reestréia, por acreditar que ele ''''revela as expressões mais fundamentais e corriqueiras dos seres humanos, tidas geralmente como inadequadas''''. ''''A importância do clown está justamente em apresentar as coisas mais vis do homem para, assim, alcançar os valores exatos da ética e do sagrado, por exemplo.'''' Como nos trabalhos que Bertazzo vem desenvolvendo com jovens da periferia há mais de quatro anos (que desde junho se profissionalizaram como Companhia Teatro Dança Ivaldo Bertazzo e voltam a apresentar Mar de Gente entre os dias 6 e 9 no Sesc Pinheiros), em Kashmir Bouquet a idéia é expor a diversidade humana. ''''Ainda que todos tenhamos a mesma estrutura muscular, somos únicos na forma do rosto, do corpo e de uma expressão mais interna. São esses detalhes que marcam a nossa individualidade.'''' Serviço Kashmir Bouquet. Teatro do Colégio Santa Cruz. Rua Orobó, 277, 3024-5191. Hoje e amanhã, às 21 h; dom., às 19 horas. R$ 30 e R$ 40. Até 25/11

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