A face íntima de Dolores Duran

Amigos relembram canções menos conhecidas da cantora e compositora, 50 anos após sua morte

PUBLICIDADE

Por Lucas Nobile
Atualização:

Em 23 de outubro de 1959, Dolores Duran chegou em casa às 7 horas e fez o seguinte pedido à sua empregada: "Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer." Tendo seu desejo atendido pela doméstica, a cantora e compositora morreu dormindo, aos 29 anos, vítima de uma combinação fatal entre álcool, estresse e barbitúricos. Hoje, quase 50 anos após sua morte, a obra de Dolores - que nunca feneceu na história do cancioneiro popular nacional - volta aos palcos para uma homenagem. Comemorando também 20 anos do Centro Cultural Banco do Brasil, os amigos e familiares de Dolores - nascida na Saúde, bairro pobre do centro do Rio, em 7 de junho de 1930, e batizada como Adiléa da Silva Rocha - se apresentam em três locais diferentes com um total de 42 canções no espetáculo O Lado B de Dolores Duran. A proposta é dividir com o público a faceta menos lembrada da cantora, um lado B, de voz mais sorrateira e intimista, com versos bem pronunciados e coloquiais. Características de uma fase de Dolores que, ao lado de outros precursores, ajudaram a construir uma ponte de transição do sambas-canção enaltecedores das dores de cotovelo para a calmaria dos dias ensolarados da bossa nova. "Ao todo serão 15 canções compostas pela Dolores. Ela ficou conhecida pela fossa e pela dor de cotovelo, mas teve um lado contemporâneo e vanguardista que influenciou muita gente", diz Leonardo Conde, diretor e produtor executivo do espetáculo. Hoje, às 18 horas, o Auditório do TRT, na Barra Funda, recebe a sobrinha de Dolores, Izzy Gordon, e as contemporâneas da homenageada, Claudete Soares e Alaíde Costa. Além de sucessos como Estrada do Sol (parceria de Dolores com Tom Jobim) e My Funny Valentine (cuja interpretação de Dolores foi classificada por Ella Fitzgerald como a melhor da história, mesmo tendo concorrentes do gabarito de Chet Baker e Frank Sinatra), uma composição inédita, sem título, será apresentada por Alaíde Costa. "Vou mostrar uma canção que nem a família da Dolores tem conhecimento. É uma composição dela com o Edinho, do Trio Irakitan, que ele me deu, na Rádio Nacional, pouco antes de morrer", diz Alaíde Costa, coincidentemente com dores de cotovelo após passar por uma operação no local: "Minha convivência com a Dolores foi muito rápida. Enquanto eu ainda estava nos programas de calouros, ela já fazia o maior sucesso." Amanhã, às 12h30, na Praça do Patriarca, no centro, as homenagens continuam nas vozes da irmã de Dolores, Denise Duran, Pery Ribeiro e Os Cariocas, com destaque para Se É por Falta de Adeus, Por Causa de Você (ambas parcerias com Jobim) e O Negócio É Amar (música de Dolores que recebeu letra de Carlos Lyra em 1983). Na terça-feira, dia 25, às 13 horas e às 19h30, no CCBB, no centro, as irmãs Soraya Ravenle, vencedora do Prêmio Shell de 1999, na categoria melhor atriz, com o musical Dolores, e Ithamara Koorax cantam joias como Fim de Caso e A Noite de Meu Bem (sucesso na voz de Lúcio Alves). "A Soraya incorporou a personagem da Dolores", diz Leonardo Conde. Serviço Auditório TRT (400 lug.). Avenida Marquês de São Vicente, 235, 1.º subsolo, telefone 3113-3651. Hoje (21), 18 h. Grátis Praça do Patriarca. Centro. Amanhã, 12h30. Grátis CCBB. Teatro (125 lug.). Rua Álvares Penteado, 112, telefone 3113-3651. 3.ª (25), 13 h e 19h30. Grátis

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.