A escuridão necessária de Drexler

Quanto mais famoso se torna, mais o cantor explora seu universo particular

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Por Flavia Guerra
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É com 12 Segundos de Oscuridad que o uruguaio Jorge Drexler chega hoje a São Paulo, onde traz novas melodias ao Sesc Pinheiros amanhã. Ironicamente, desde que recebeu o Oscar de melhor canção por Al Otro Lado del Río, em 2005, tema de Diários de Motocicleta, de Walter Salles, nunca mais teve muitos minutos longe dos holofotes. Além de ser a primeira canção em língua não saxônica a ganhar o prêmio máximo do cinema americano, Drexler protagonizou uma entrega polêmica. A organização do Oscar não permitiu que ele cantasse sua música e escalou o espanhol Antonio Banderas para fazê-lo. Quando o resultado revelou que era justamente o então desconhecido Drexler o vencedor, ele, em vez de agradecer, cantou a capela sua canção. A latinidade de plantão foi ao delírio. E a carreira de Drexler foi ao ápice. Por estas e por outras, tudo que ele não tem tido são minutos à sombra. E tem rodado o mundo com suas melodias melancolicamente otimistas. Depois do Oscar, já foi indicado, e venceu, várias vezes o Grammy Latino. Na sexta, o anúncio dos indicados para o prêmio máximo da música mundial o colocou mais uma vez na disputa pelo título de melhor cantor compositor. Desta vez, ele está ao lado de Caetano Veloso, de quem ele ''''perderia com prazer .'''' Da capital paulista, segue para Brasília, onde se apresenta ao lado de Arnaldo Antunes e Paulinho Moska. Confira trechos da entrevista concedida ao Estado. Você tem estado cada vez mais em evidência. Como falar de obscuridade, de tranqüilidade e exercer o chavão do ócio criativo quando sua carreira está atribuladíssima? O equilíbrio se consegue prestando atenção não só aos momentos de muita exposição mas também aos momentos de parar e de se formar. Comecei a criar este disco numa praia no Cabo Polonio, no Uruguai. Neste lugar há um farol, ele emite um raio de luz a cada 12 segundos. Esta é a história do disco. Adorava ficar olhando o farol, aquela figura arquetípica. E entendi que o farol precisa deste intervalo de obscuridade entre os dois raios de luz para guiar os viajantes. Ele guia pelo ritmo e não só pela luz. Este disco está construído sobre esta metáfora. É um disco que foi feito, como você mesmo observou, em um momento de muita exposição midiática, mas também de muita introspecção, para contrabalançar isso. Em um momento em que tudo se volta para fora na minha carreira, escolhi olhar para dentro de mim mesmo. É disso que fala a canção e o disco. E isso vai continuar, já que acabou de ser indicado mais uma vez para o Grammy Latino. Desta vez ao lado de Caetano. Fiquei muito feliz com a indicação. Prêmios são sempre bons. É a opinião falível e caprichosa de um grupo de pessoas, mas são importantes. Desta vez concorro até com Caetano Veloso. Estou muito honrado. Dele eu perco com prazer. É reconhecimento artístico, muito mais importante que fama. Por falar em Caetano, com quem nunca trabalhou, mas já disse que gostaria de dividir uma canção, você está cada vez mais próximo da música brasileira, não? Haja vista as parcerias com Maria Rita (que gravou sua canção Mal Intento), Paulinho Moska, Nenhum de Nós, Arnaldo Antunes. É verdade. Adoro a música brasileira. Estou até aprendendo a falar português. Convidei Maria Rita para cantar Soledad no meu disco. Com Paulinho, que é meu amigo, e Arnaldo eu canto nesta semana. Com o Nenhum de Nós, gravei Raquel. Neste disco gravei também Disneylândia, dos Titãs. Por falar em versões, em 12 Segundos você gravou pela primeira vez uma música americana (High and Dry, em inglês, do Radiohead). Como o público tem recebido isso? Adoro o Radiohead e o compromisso emocional e artístico que eles têm. Críticas e público têm dito que High and Dry tem sido o melhor momento dos shows.

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