À Deriva vai levar o Brasil a Cannes

Filme de Heitor Dhalia estará na seção Un Certain Regard, fora de competição

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Por Luiz Carlos Merten
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Feliz da vida, Heitor Dhalia comemorava ontem pela manhã a inclusão de seu longa À Deriva na seleção oficial do Festival de Cannes. A confirmação de que o filme estava no maior evento de cinema do mundo ocorreu somente na quarta-feira, mas Heitor descobriu que a demora tinha uma razão forte - até o último momento, À Deriva esteve cotado para integrar a competição, mas, no final, foi selecionado para a mostra Un Certain Regard. É a segunda em importância de Cannes, mas para muitos críticos é a principal. Embora os filmes não concorram à Palma de Ouro, o prêmio da seção Um Certo Olhar é prestigiado e críticos destacados garantem que é nela que se podem garimpar os filmes mais ousados e criativos da programação. "Estou realizando um sonho de cinéfilo", diz Dhalia, que já foi a Roterdã e Moscou com Nina e a Sundance com Cheiro do Ralo, seus longas precedentes. E não importa que À Deriva, ainda sem data de estréia no Brasil, não concorra à Palma. "Este festival vai ficar marcado como o da mudança", ele avalia. "A crise econômica acabou com um tipo de cinema independente baseado na venda antecipada. Ainda não sabemos o que vai surgir, mas essa poderá ser a última seleção com base nesses filmes, que têm a cara de Cannes. Todos os grandes nomes integram a mostra competitiva. Vai ser uma disputa pesada que vou poder acompanhar sem estresse. O fato de À Deriva ser uma produção da O2 com a Focus Features vai abrir janelas importantes para a negociação de projetos internacionais." Tudo é sensível em À Deriva, garante o poderoso Fernando Meirelles, da O2 Filmes. Sobre a ida a Cannes, ele é taxativo - "Lá vamos nós mais uma vez. Embora pareça uma fábrica de malucos, Cannes é sempre ótima plataforma para lançar um filme." A disputa ?pesada? na competição a que se refere Heitor Dhalia inclui alguns dos maiores diretores do mundo. Pedro Almodóvar (Abrazos Rotos), Lars Von Tier (Anticristo), Alain Resnais (Les Herbes Folles), Quentin Tarantino (Inglorious Bastards), Michael Haneke (Das Weisse Band), Ang Lee (Taking Woodstock) e Ken Loach (Looking for Eric) são alguns dos grandes que concorrerão à Palma de Ouro da 62ª edição do Festival de Cannes, de 13 a 24 de maio. A lista completa está no quadro. Em Madri, um eterno postulante ao prêmio, Pedro Almodóvar, destacou que Cannes nunca foi tão generosa com o cinema da Espanha. Além de seu filme, Isabel Coixet também concorre à Palma com Map of the Sounds of Tokyo e Alejandro Amenábar exibe, à meia-noite, fora de concurso, Agora. Justificando a seleção, o diretor artístico Thierry Frémaux creditou à greve dos roteiristas de Hollywood a escassa participação de produções dos EUA. "Talvez a greve tenha atrasado os projetos", disse. O cinema norte-americano conseguiu cravar apenas um filme, o de Tarantino, entre os 20 selecionados. E latino-americano, nenhum. "Não selecionamos os filmes por sua nacionalidade, mas a importância de uma cinematografia não pode ser avaliada pelo fato de estar ou não presente em uma edição do festival. Os norte-americanos e latinos estiveram muito presentes em edições anteriores e poderão voltar a estar em futuras (edições)", disse. Além de Heitor Dhalia, o colombiano Ciro Guerra participa da seção Un Certain Regard com Los Viajes del Viento.

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