A cultura jovem do Brasil baila em Lyon

Companhia Urbana, formada por dez garotos nascidos e criados na periferia do Rio, participa do evento com sucesso

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Por Livia Deodato e LYON
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No alto do Théâtre Celestins de Lyon, fundado em 1792, estão gravados três dos maiores nomes do teatro francês - Racine, Molière e Corneille. Eles observam, desde domingo à noite, a performance de dez garotos nascidos e criados na periferia do Rio, que, há pelo menos 4 anos, vêm acreditando na dança como agente transformador (prioritariamente em suas vidas; conseqüentemente, na dos espectadores, desta vez franceses). Os meninos, cuja média de idade é de 21 anos, mostram até o próximo dia 17, duas coreografias: Agwa, coreografada pelo franco-argelino Mourad Merzouki, trabalho iniciado há cerca de dois anos que aqui tem sua estréia mundial, e Suíte Funk - Carioca e Suburbana , de Sonia Destri, diretora da Cia. Urbana de Dança, da qual fazem parte. Na segunda-feira, às 19h30, dia da segunda apresentação dos garotos, uma platéia lotada estava ansiosa para ver ali o resultado da fusão entre dois mundos diversos e também tentar entender um pouco mais da cultura brasileira sobre a qual demonstram grande interesse. Agwa faz uso de elementos simples como centenas de copos plásticos espalhados sobre o palco e uma iluminação densa e multicolorida. A Cia. Urbana mostrou sua dança de rua, que faz questão de agregar os mais diferentes elementos da cultura verde-e-amarela: seja a ginga da capoeira, o miudinho do samba ou o requebrado do funk. Especificamente em Agwa, os garotos se arriscam em movimentos criativos sobre a música latina, árabe e até mesmo africana, dada a origem argelina do coreógrafo convidado pelo curador e diretor da Bienal de Dança de Lyon, Guy Darmet. "Pensei diversas vezes em desistir, por causa das milhares de dificuldades que tive de enfrentar no Brasil, principalmente no que diz respeito aos apoios financeiros que inexistem", confessou Merzouki num bate-papo com o público logo após a apresentação de segunda. "Mas quando senti a forca de vontade que esses meninos carregavam dentro de si e o amor que tinham pela dança, mudei definitivamente de idéia." A diretora do grupo, Sonia Destri, revela que a idéia do trabalho foi lançada por Merzouki, mas a concepção foi mesmo elaborada pelos próprios meninos. "Eles ajudaram a construir o espetáculo, sugerindo movimentos e criando toda a evolução lógica de Agwa." "Eles não esbanjam somente força e sim muita poesia", disse a francesa Carine Percheron, de 35 anos. Com a amiga Nathalie Piers, também de 35, ela se dirigiu ao Celestins na segunda à noite sem fazer idéia do que veria no palco. E saiu mais feliz que os garotos da companhia. "Não é um espetáculo sofisticado: eles utilizam elementos simples, mas que surtem muito efeito quando em cena, como a água, os copos plásticos e os figurinos básicos mas coloridos. É uma oportunidade única de observar o paradoxo entre um teatro centenário e cheio de pompas e jovens moradores de favelas com sua dança popular", complementou. A repórter viajou a convite da organização do festival

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