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A coleção de arte do teatrólogo

Rio expõe acervo baseado no gosto de Arthur Azevedo

Por Roberta Pennafort
Atualização:

''Quando eu morrer, não deixarei o meu pobre nome ligado a nenhum livro, ninguém citará um verso, nem uma frase que me saísse do cérebro; mas com certeza hão de dizer ''Ele amava o teatro'', e este epitáfio moral é bastante, creiam, para a minha bem-aventurança eterna''. Assim escreveu o teatrólogo maranhense Arthur Azevedo, em setembro de 1908, um mês antes de sua morte. Um século depois, os cariocas descobrem que o amor deste autor, considerado o consolidador da comédia de costumes brasileira (sendo seu fundador Martins Pena), se estendia às artes plásticas - sua coleção particular, que vai do século 16 ao 19, chegou a ter mais de 23 mil quadros, gravuras e desenhos, adquiridos no Brasil e no exterior. Parte dessas obras - 30 - foi trazida do Maranhão para a Biblioteca Nacional, no Rio, onde, desde segunda-feira, está montada a exposição O Universo de Arthur Azevedo. É a primeira vez que elas saem de lá. São de artistas como Francisco Piranesi, Jacques Callat, Charles Le Brun, Antonio Parreiras, Manoel Teixeira da Rocha, Belmiro de Almeida. Nas paredes, foram espalhadas imagens da São Luís e do Rio, captadas por Azevedo, que, além de criador de quase 200 peças de teatro, era jornalista e poeta. Ele pertenceu ao grupo fundador da Academia Brasileira de Letras, junto com o irmão, Aluísio Azevedo, o autor de O Cortiço. ''Poucas pessoas sabem do lado colecionador de Arthur Azevedo. Ele reconhecia todas as linguagens estéticas de sua época. Era um homem erudito; se não fosse, não teria juntado tantas obras'', diz Maria Helena Duboc, uma das cinco curadoras da mostra. A coleção - que tem ainda Victor Meireles, Henrique Bernardelli, Eliseu Visconti, entre outros artistas - pertence ao Estado do Maranhão, que as comprou da viúva em 1910, dois anos, portanto, após a morte de Azevedo, no Rio (o escritor chegou à cidade aos 18 anos). Hoje, ela é composta de 18.470 obras, que fazem parte do acervo do Palácio dos Leões, sede do poder executivo estadual. O governador Jackson Lago veio para a abertura da exposição e disse que parte da coleção deverá ser mandada, um dia, para o futuro Museu de Arte Contemporânea de Maranhão, cujo projeto está sendo desenvolvido por Niemeyer. A mostra fica no espaço cultural da Biblioteca Nacional até 12 de julho.

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