A boa surpresa de Bruna Lombardi e Riccelli

O Signo da Cidade revela sem pieguice a São Paulo dos invisíveis sociais

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Por Redação
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Uma bela surpresa na Première Brasil - O Signo da Cidade, longa de Carlos Alberto Riccelli, escrito, produzido e interpretado por Bruna Lombardi. Não havia motivos para duvidar que o casal que ocupa um lugar tão especial no imaginário do espectador brasileiro - belos, bem sucedidos, unidos há mais de 20 anos - pudesse fazer um bom filme, mas O Signo da Cidade surpreende porque é muito melhor do que se poderia esperar. É um tipo de filme difícil. Bruna escreveu um roteiro coral, à Robert Altman, dando voz a diversos personagens (uns 30), para que Riccelli soltasse sua câmera entre eles, como fazia o importante diretor americano que morreu no ano passado. Existem todos esses personagens, interligados pela própria Bruna, que faz uma astróloga de rádio, dessas que vivem fazendo projeções sobre a vida das pessoas. É curioso que duas pessoas que brilham tanto sob a luz dos refletores, como Bruna e Riccelli, sejam tão sensíveis à dor e à solidão daqueles que não têm visibilidade nenhuma na cidade grande. O filme fala dessas pequenas vidas anônimas. São Paulo é uma personagem importante e, aliás, cabe ressaltar que mais de 40 anos depois do clássico São Paulo S.A., de Luiz Sérgio Person, esteja havendo um surto de filmes que tentam desvendar o mistério da cidade - sua pujança, mas também sua desumanidade. Não por Acaso, de Philippe Barcinski, já estreou nos cinemas. Outros dois estão aqui no Festival do Rio - A Via Láctea, de Lina Chamie, e o filme de Riccelli. Os dois últimos, de alguma forma, estão ligados não apenas pelo cenário, mas também por algo maior. A astrologia, em O Signo da Cidade, e o caminho dos mortos, como a mitologia se refere à Via Láctea, no filme de Lina. Sendo um filme sobre solidão, tristeza, dor, O Signo da Cidade não é para baixo. Fala de esperança sem pieguice e faz outra coisa muito importante - apesar do gigantismo da cidade e das numerosas cenas de rua, o percurso dos personagens é, quase sempre, rigorosamente interior. O Signo da Cidade deve ir à Mostra de São Paulo e, na seqüência, estréia em 15 de novembro nos cinemas. Dois outros trabalhos abordaram o universo musical - Maré, Nossa História de Amor, de Lúcia Murat, também na Première Brasil, e Fados, de Carlos Saura. O filme de Lúcia é melhor nas partes do que no todo - atores maravilhosos, boa música, bela coreografia. Falta alguma coisa para que esse Romeu e Julieta no morro, ou no tráfico, seja o grande filme que poderia ser. Fados investiga o gênero musical que expressa a alma portuguesa. A platéia do Cine Odeon BR aplaudiu, em cena aberta, o número Fado Flamenco. Poderia ter aplaudido, também, o maravilhoso Fado Tropical de Chico Buarque.

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