A banalidade é tema de mostra em SP

Os artistas Ana Elisa Egreja, Julia Kater e Cabelo participam de exposição do programa Arte Atual do Instituto Tomie Ohtake

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Por Camila Molina
Atualização:

“Não sei se sou irônica demais”, indaga-se Ana Elisa Egreja ao lado das pinturas que realizou nos últimos 10 meses – uma sequência de 21 naturezas-mortas nas quais ela trata mais uma vez da questão do gosto. Alta ou baixa cultura? O limite entre ambas, considera. Ao mesmo tempo em que a artista de 32 anos cita como referências Cézanne, Zurbarán, Matisse e Pieter Claesz, ela usa panos de prato vendidos nos faróis da cidade e o retrô “vidro fantasia” dos anos 1960 e 70 para representar encenações com bromélias de vasos de plástico, frutas, caveiras e borboletas que são figurativas, entretanto, difusas. Relacionadas ao tema Da Banalidade, as telas da pintora participam agora do programa Arte Atual do Instituto Tomie Ohtake.

Ana Elisa Egreja cria 'jogo ilusório' em suas naturezas-mortas contemporâneas Foto: SERGIO CASTRO/ESTADÃO

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Não apenas Ana Elisa Egreja, mas também os artistas Cabelo e Julia Kater inauguram nesta quarta-feira, 3, suas mostras individuais como convidados da primeira exposição de 2016 – ou do “volume 1” – do projeto, que tem curadoria de Paulo Miyada e é feito em parceria com as galerias que representam seus participantes (desta vez, respectivamente, Leme, Marilia Razuk e SIM). Ao longo do ano, prevê o curador do Instituto Tomie Ohtake, serão apresentados mais outros três “capítulos” formando um ciclo de leituras sobre o banal “desde o senso comum, passando pela beleza das coisas banais até se chegar à banalização política”, explica Miyada.

“A banalidade/da banalidade/levanta as orelhas”, escreve Cabelo, de 48 anos, em poema inspirado pela ocasião de sua mostra em São Paulo. Desenhos são criados pelo artista, que vive no Rio, “como compulsão”, ele conta, e seus gestos caligráficos, líquidos, feitos a nanquim são transpostos para grandes telas por meio da técnica serigráfica. A serigrafia “não é nobre como a pintura”, destaca, e possibilita a reprodução e a repetição. Suas obras tornam-se, assim, composições de intensa cor, “enigmas visuais”, diz o curador, completando que Cabelo é um “herdeiro da negação da ideia de pedestal, da solenidade da grande arte”.

Sendo assim, o artista cria sua sala como uma instalação onde há ainda um sofá coberto por tecidos, um aparelho de televisão e uma placa luminosa (dessas encontradas em recintos comerciais), que traz os dizeres “Obrigado/Volte Sempre”. Justamente desse aparato popular, Cabelo criou um vídeo de imagens abstratas e belas captadas com zoom do reflexo das luzinhas sobre detalhes da cozinha de sua casa. Os frames são como criações gráficas, afirma o artista, formadas nas “brechas do cotidiano”.

Já Julia Kater, de 35 anos, une suas formações artística e pedagógica para lidar com a questão da linguagem na obra Desenhos Livres sobre Temas Impostos e no vídeo Breu. No primeiro trabalho, ela exibe 54 pranchas de inox brancas nas quais são cortadas as ilustrações de crianças de 7 anos, em alfabetização, para a representação de tópicos básicos – casa, árvore, nuvem e sol. “A coleção editada pela artista evidencia em um sagaz encadeamento visual o caráter esquemático do ‘desenho alfabetizado’”, define Paulo Miyada.

Em Breu, Julia trata do “lugar da fala” – e do descompasso do que se diz e se entende – por meio do registro da ação de homens que asfaltam um retângulo de terra delimitado no meio do mato. “O piche adere a tudo”, constata a criadora – e, ao fundo, uma de uma mulher discursa sobre o que seria certo e errado.

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