A baianidade traduzida em imagens

A Fotografia na Bahia revisita o Estado, seu povo e costumes, entre 1839 e 2006, incluindo nomes como Flávio de Barros

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Por Simonetta Persichetti
Atualização:

Não só de literatura e música se faz a Bahia. A fotografia faz parte de sua história e tradição desde os primórdios da invenção. É disso que trata o livro A Fotografia na Bahia: 1839-2006 (Asa Foto, 192 págs., R$ 149,90. Patrocínio do Fundo de Cultura da Bahia). Coordenado por Aristides Alves e com textos de Maria Guimarães Sampaio, Gustavo Falcón e Rubens Fernandes Júnior, a empreitada não foi fácil, afinal são mais de 160 anos de fotografia. Mesmo assim os baianos não arrefeceram e toparam o empenho. O curador e editor da façanha é o fotógrafo Aristides Alves, sempre ligado ao ensino e divulgação da fotografia. O livro foi dividido em duas partes: os primeiros 100 anos e os 67 restantes ou da fotografia mais contemporânea. Sem dúvida, iconograficamente ficou um belíssimo compêndio de imagens, todas pesquisadas nos próprios arquivos da Bahia, em casas tais como o Arquivo Público e Biblioteca Pública, Fundações como Jorge Amado, Gregório de Matos, Instituto Feminino da Bahia, coleções particulares, jornais, publicações e catálogos, entre outros. Não à toa esse trabalho merece destaque. Pela história oficial, as primeiras imagens realizadas na América Latinas foram feitas no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, no início do ano de 1840. Sabe-se, porém, por documentos escritos que antes de chegar à capital federal, o navio franco-belga que trazia a nova invenção aportou na Bahia e é difícil acreditar que algumas imagens não tenham sido feitas por lá, embora ainda não existam tais registros. Não importa. O que interessa é acompanhar a profusão de fotógrafos e de imagens produzidas na Bahia e que ajudaram a construir um imaginário desta cidade. Embora o livro se baseie em fotos e imagens já conhecidas, surgem algumas novidades, como por exemplo fotografias de Flávio de Barros, conhecido por suas imagens da Guerra de Canudos, mas que neste livro aparece com fotografias que retratam uma movimentação popular em 1895, ou retratos de personalidades baianas. Também são publicadas 4 vistas da Bahia, assinadas por Wm Gaensly, que mais tarde passaria a assinar suas imagens como Guilherme Gaensly, como, aliás, passou para a história da fotografia, mas nessa época ainda usava seu nome de batismo William. Portanto imagens dos primórdios de sua chegada à Bahia. Na segunda parte, a contemporânea, o livro destaca os trabalhos mais autorais dos fotógrafos baianos. Ensaios de Adenor Gondim, Mario Cravo Neto, Anízio Carvalho e, é claro, Pierre Verger, entre outros. O resultado é uma bela compilação da produção fotográfica baiana. Pena que os textos, confuso o da primeira parte, tenham muitas citações, nomes e uma mistura que vai da linguagem à técnica. Cansativo de ler e os da segunda parte, ao contrário, concisos demais. Quase sobrevoam a questão. Numa obra desse porte, porém, onde o que mais interessa é a imagem, essas questões não chegam a incomodar. Sem dúvida foi dado mais um passo para difundir e catalogar a história da nossa fotografia. Oxalá, todos os Estados brasileiros fizessem este mesmo compêndio.

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