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A arte de garimpar espetáculos

O aumento de mostras nacionais e internacionais revela a riqueza do intercâmbio de artes cênicas

Por Beth Néspoli
Atualização:

Poucos e frágeis há cerca de dez anos, festivais internacionais de grande porte vêm se firmando na cena nacional. Os mais antigos se sedimentam, surgem novos, alguns bem estruturados, com perfis de programação definidos. A cidade paranaense de Londrina abriga o mais longevo, intitulado Festival de Londrina (Filo), que comemora 40 anos com vasta programação e traz Fragments, um Beckett dirigido por Peter Brook e Andersen''s Dream, com o Odin Teatret, dirigido por Eugênio Barba. Ambos vão circular por meio de parcerias, algumas com programação simultânea, como a Mostra Internacional de Teatro (MIT) promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília. Nesta semana, Belo Horizonte é palco de um importante festival de teatro de bonecos, com grande diversidade de manipulação - fantoches, marionetes, luvas, fios, varas, sombras, mímica, máscaras, animação de de objetos - e a participação de 20 companhias de países como França, Bélgica, Espanha, Itália - também parceiro do Filo. Entre os destaques, a Cia. Viaje Inmóvil, do Chile, formada por integrantes do Teatro La Troppa, que vão apresentar pela primeira vez no Brasil o espetáculo Gulliver. Em São Paulo, uma companhia teatral, a Paidéia, realiza o 2º Festival Internacional de Teatro Infanto-Juvenil, com montagens vindas da Argentina, Colômbia e Bélgica, entre outros países. Embora voltada para um público alvo definido - jovens e crianças -, tem espetáculos de diversas linguagens e para todas as idades, como o divertido A Julieta e o Romeu, do grupo Barracão, de Campinas, que se apropria da linguagem do palhaço para tratar de temas como a arte de representar e as relações afetivas. No Rio, realiza-se este mês uma mostra com características igualmente específicas, o Festlip, Festival de Teatro de Língua Portuguesa, que reúne peças de países como Angola, Cabo Verde e Portugal. Desperta a curiosidade, por exemplo, o espetáculo moçambicano As Filhas de Nora, dirigida por Manuela Soeiro, com três atrizes no elenco, livre adaptação de A Casa de Bonecas, de Ibsen. Festivais fazem circular encenações brasileiras que nada devem em qualidade às estrangeiras. Besouro Cordão-de-Ouro, musical com canções de Paulo César Pinheiro e direção de João das Neves; Por Elise e Amores Surdos do grupo mineiro Espanca!; Salmo 91, adaptação de Dib Carneiro Neto do livro Carandiru, de Drauzio Varella, que valeu prêmios importantes ao diretor Gabriel Villela e ao ator Rodolfo Vaz; Zona de Guerra, peça de Eugene O''Neill dirigida por André Garolli; e Deve Haver Algum Sentido em Mim Que Basta, montagem carioca dirigida por Jefferson Miranda estão entre os vários espetáculos que valem ser vistos por todo o Brasil e integram uma ou mais mostras internacionais do País. Festivais são importantes? Sabe-se que não há geração espontânea na arte. Cultura é processo cumulativo. O aprimoramento de uma expressão artística se dá a partir do conhecimento do já feito. Se há boa curadoria, um festival de teatro pode ser um instrumento importante de desenvolvimento da cena, por proporcionar referências. Entrar em contato com um grande espetáculo abre novos horizontes para quem se inicia na atividade e faz avançar a sensibilidade crítica do público. Embora difícil de mensurar, o impacto de uma montagem pode render muitos frutos, provocar transformações. Por exemplo, há dois anos o Porto Alegre em Cena trouxe da Lituânia uma encenação de Otelo, de Shakespeare, impactante, dessas que mudam a visão sobre o texto. Pois o mesmo diretor, Eimuntas Nekrosius, vai marcar presença na edição deste ano com uma montagem de Fausto, de Goethe. Há ainda outros aspectos. Por exemplo, a realização de atividades formativas - debates, palestras, oficinas - foi um dos aspectos que uniram organizadores de alguns desses eventos (Filo, FitBH, Fit Rio Preto, Riocena, o caráter público do evento'', diz Jorge Vermelho, diretor do Fit Rio Preto. ''Os ingressos têm de ter preços acessíveis e tem de haver, necessariamente, atividades paralelas voltadas para a formação e o intercâmbio cultural'', completa. ''Unimos esforços para baratear custos e ampliar a circulação de grande espetáculos'', afirma Luiz Bertipaglia, diretor do Filo. O Núcleo de Festivais optou ainda por patrocinar, a cada ano, uma montagem para estrear numa das mostras e circular pelas outras. Desta vez, o grupo escolhido foi o mineiro Espanca!, que vai apresentar sua nova montagem - O Congresso Internacional do Medo - no Fit Rio Preto. ''Este ano vamos também fomentar o surgimento de mais dois festivais internacionais, um no Nordeste, o FIAC-Salvador, e outro na região Norte, o Belém-Teatro, ambos em fase de organização'', diz Jorge Vermelho. Há no Brasil ainda muitos festivais regionais, de caráter amador ou profissional, mais de 200 já mapeados. A grande maioria tem programação regional e distribui prêmios. ''Festivais de teatro avançam quando perdem o caráter competitivo'', observa Jorge Vermelho. ''Ao eliminar a competição, o olhar sobre o trabalho do outro deixa de ser uma avaliação no estilo ''o que ele tem de bom que vai me fazer perder?'' O outro deixa de ser o rival para ser o parceiro e, assim, o intercâmbio artístico flui e enriquece a todos.'' Há também no Brasil importantes festivais nacionais, entre eles do Festival de Teatro de Curitiba, o de maior visibilidade, sempre em março; e, em novembro, o Festival Recife de Teatro Nacional, com qualidade ascendente, que realiza este ano sua 11ª edição. Este mês, a cidade de Ipatinga, em Minas Gerais, realiza a primeira edição de seu festival entre os dias 7 e 13. Graças ao evento, o público da cidade verá A Gaivota (Alguns Rascunhos), adaptação da peça de Chekhov com o Grupo Piollin, de João Pessoa (PB). Há ainda festivais internacionais de teatro de bonecos em Canela, Florianópolis e o itinerante Sesi Bonecos, que já passou por cidades de Norte a Sul do País. Nem todos ganham repercussão nacional na imprensa, mas todos proporcionam momentos de encanto, reflexão e aprendizado aos participantes, estejam eles no palco ou na platéia. Fique Ligado FRAGMENTS - PETER BROOK Junho Dias 15, 16 e 17: Festival de Londrina - Filo Dias 19, 20, 21 e 22: Mostra Internacional CCBB de Brasília Dias 26, 27, 28 e 29: CCBB do Rio Julho Dias 3, 4, 5, e 6: Sesc Santana ANDERSERN?S DREAM - EUGÊNIO BARBA Junho Dias 19, 20 e 21: Festival de Londrina - Filo Dias 26, 27 e 28: Mostra Internacional CCBB de Brasília Julho Dias 4, 5 e 6: Sesc Pompéia Dias 11, 12 e 13: Fit São José do Rio Preto PARA SABER MAIS Festival Internacional de Teatro de Bonecos de Belo Horizonte (MG) 31 de maio a 8 de junho www.festivaldebonecos.com.br Festival de Londrina - Filo (PR) 4 a 22 de junho www.filo.art.br Festival de Teatro da Língua Portuguesa - Festlip (RJ) 4 a 15 de junho www.festlip.com Festival Internacional de Teatro para a Infância e Juventude (SP) 5 a 10 de junho www.paideiabrasil.com.br Mostra Internacional de Teatro, Brasília (DF) 6 a 29 de junho www.bb.com.br/cultura Festival Internacional Palco & Rua de Belo Horizonte 25 de junho a 6 de julho www.fitbh.com.br Festival Internacional de São José do Rio Preto (SP) 9 a 19 de julho www.festivalriopreto.com.br Porto Alegre em Cena 2 a 28 de setembro www.poaemcena.com.brP

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