Quando o musical estreou, em julho, foi noticiado que ele ficaria apenas algumas semanas como Zorro, à espera de Murilo Rosa, que estava gravando uma novela da Globo (justamente Araguaia, que estreou hoje). Tão logo estivesse com um tempo mais elástico, Rosa assumiria.
Achei estranho, mas logo descobri que a estreia tinha de acontecer na data marcada por conta de aluguel de teatro, além de contrato firmado com os outros atores. Fui, então, conferir o Zorro de Jarbas para compará-lo com o Zorro de Murilo. Bem, para fazer isso, terei de esperar até o ano que vem, quando o musical deve estrear no Rio, onde o chamado titular assume - ainda por conta da novela, Murilo, que ambiciona muito o papel, não tem chance de interpretar em São Paulo.
Claro que isso ainda não foi noticiado para não diminuir a expectativa, mas, acredito que fará um bom negócio quem for admirar o trabalho de Jarbas. Ouso até dizer que Murilo não consegueria ter a mesma vibração do atual titular. A história conta como surgiu o mito de Zorro, ou seja, Dom Diego de la Vega ainda é um rapagão que, de volta da Espanha ao México, surpreende-se com o irmão assumindo o poder e espalhando o terror pela vila. Trata-se portanto de um jovem rapaz e Jarbas aproxima-se mais do perfil que Rosa.
Outro detalhe crucial: o canto. Jarbas é experiente na área e, em um de seus solos, consegue realmente arrancar aplausos sinceros (meus, pelo menos). Nunca vi Murilo Rosa cantar e posso estar sendo precipitado. Mas arrisco apostar em uma envergadura vocal melhor de Jarbas.
Eu o vi como a razão do espetáculo assim como Luiz Araújo no papel de Ramón, o irmão invejoso e cruel. Sem cair na caricatura, Luiz surpreende como antagonista: além de fugir da tradicional feiúra dos personagens ruins (sua beleza equivale-se a do restante do elenco), ele é mordaz nos momentos exatos.
O que me incomodou foi a dança. O flamenco é a arte dos ciganos da Andaluzia e se caracteriza por uma contradição: um excesso de sentimentos transmitidos por uma economia de movimentos. Com isso, qualquer movimentar de braços, levantar de pernas, entortar de cabeça traduz um turbilhão de intenções. Em Zorro, porém, preferiu-se o virtuosismo a la Gypsy Kings, ou seja, uma exuberância que talvez case com a música (cansativa, no meu modesto gosto), mas que se torna repetitiva.
O público delira (o musical, aliás, cumpre uma bela temporada, com bem mais da metade da lotação, o que é um feito atualmente), canta hits como Bamboleo e Baila Baila. Bem, se o espetáculo é feito para a plateia, que importância têm as críticas?