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Na cena e na escrita

Viva Hair!

 Programa obrigatório para quem estiver no Rio de Janeiro nos fins de semana: assistir ao musical Hair, na versão de Claudio Botelho e Charles Moeller. Assisti a uma sessão no sábado e fiquei maravilhado. O temor de que o musical envelhecera, ainda que com suas canções clássicas, existia mas logo se dissipou na primeira cena, na primeira canção.

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Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Aquarius é o cartão de visita de Hair, apresentando alguns aspectos que serão explorados em seguida. A canção, poderosa, é interpretada de forma vibrante pelo elenco de 30 atores, todos caracterizados como hippies dos anos 1960. A apresentação também anuncia o que o espectador pode esperar: um elenco afiado, afinado, motivado. E, para aproveitar tamanha energia, Charles e Claudio empenharam-se no que pode ser seu melhor trabalho.

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A difícil tarefa de tradução de letras tão fixadas em nossa memória foi encarada com sabedoria por Claudio. Ele seguiu o conselho dos produtores americanos e buscou uma proximação mais com o som que com a palavra. Claro que a ideia continua lá mas, em alguns momentos, não há uma tradução literal ou mesmo próxima do original - apenas a suavidade do som é mantida. Isso provoca um efeito mágico: já na primeira canção, bastam alguns minutos para parecer que a letra foi composta em português! Parece um exagero, mas reforço o belo trabalho de manutenção da ideia e fidelidade à sonoridade.

Já a direção de Charles não escapa do brilhantismo. Depois de uma audição muito disputada, ele conseguiu reunir um elenco impressionantemente ótimo, que não apens canta bem, como interpreta com categoria. O que é um alento, comprovando mais um passo na evolução dos nossos atores/intérpretes/dançarinos para uma especialização cada vez maior.

Hugo Bonemer, como Claude, reproduz a instabilidade emocional de seu personagem, dividido entre a tribo de hippies e as exigências paternas para se alistar na guerra. Igor Rickli faz Berger, o chefe da tribo, encarregado de manter firme a convicção de lutar contra a absurda guerra com o Vietnã. Ele equilibra bem o sex-appeal (bem utilizado por Berger) com a emoção exigida por um final catártico.

O nível é mantido pelos demais atores, como Marcel Octavio como Woolf e especialmente Letícia Colin, excepcional como Jeanie, personagem que beiraria a caricatura não fossem seus belos dotes de humor. É uma figura que não se esquece facilmente.

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O ativismo pela paz é importante e sempre atual. Hair surgiu em um momento de enrome transição mundial (anos 1960) e cumpriu um papel importante. Uma nova versão surgiu na Broadway há dois anos, que foi assistida por Claudio e Charles - repaginada, encantou a dupla que soube acrescentar particularidades brasileiras. É emocionante o final do espetáculo, quando os atores convidam a plateia para subir ao palco, quebrando a quarta parede e iniciando uma rara comunhão. Ninguém sai imune depois de assistir a Hair.

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