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Na cena e na escrita

Novos musicais na cidade

São Paulo continua um porto seguro para os musicais - nas últimas semanas, estrearam 'Evita' e 'New York New York'. Opções com momentos luminosos.

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Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Nunca escondi meu receio de assistir a uma montagem nacional do 'Evita'. Talvez influenciado pelo filme de Alan Parker, que acho chatíssimo e over, achei que enfrentaria o mesmo com uma versão no palco. Jorge Takla, que produz e dirige essa versão, conseguiu mudar minha opinião.

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Em 'Evita', ele troca os cenários fabulosos e muito bem acabados, que são uma de suas marcas registradas, por algo mais clean: apenas paredes brancas, que tanto funcionam como telas para projeções como cenário de portas. O efeito é deslumbrante e permite, por meio das imagens, conhecer a trajetória de Evita, mulher odiada e amada na mesma intensidade.

Com isso, aumenta a responsabilidade dos atores. Daniel Boaventura, apesar de aparecer menos que seus colegas protagonistas, vive um Juan Perón enigmático, que tanto sabe manipular a força da mulher como arquitetar seus planos políticos. Muito se critica o fato de o espetáculo não escancarar os abusos violentos de Perón, além de sua má condução econômica do país. Não concordo, pois o musical não serve para revisar um tempo histórico e sim para entreter.

Fred Silveira interpreta Che Guevara, uma licença criativa pois o personagem não conviveu diretamente com Evita, mas sua presença é como uma espécie de Grilo Falante, aquele tipo de narrador que não participa da cena mas faz comentários ácidos e muito bem aplicados. Fred, que estudou muito o papel, apresenta uma de suas melhores interpretações, sem os exageros de Antonio Banderas na tela grande. Além de cantar bem, Fred sabe interpretar, o que faz a diferença.

Finalmente, Paula Capovilla como Evita. Sua voz é esplendorosa, mantendo o magnetismo mesmo nos momentos mais gritados. E sua presença em cena é convincente, trilhando a triste mas fabulosa trajetória da mulher pobre, alpinista social, que faz tudo pelo poder e que morre cedo, tornando-se santa. Acredita-se muito no personagem, mesmo com seus erros, a partir da interpretação de Paula.

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Quem também arrebenta em cena é Alessandra Maestrini, protagonista de 'New York New York'. Que ela é ótima atriz e comediante, já se sabia. Que cantava bem, também. Mas que cantava tremendamente bem, eu não sabia.

O musical é fraco como história, pois mostra o amor de um casal logo após o fim da 2ª Guerra como fio condutor. O que valem, portanto, sãos alguns momentos. Alessandra tem a força de uma locomotiva para carregar todo o espetáculo, ainda que Juan Alba seja uma bela surpresa como cantor e Simone Gutierrez, apesar de enfrentar um paple ruim, demonstra porque pertence ao primeiro time dos musicais em seu número solo 'Fever'.

A se destacar também a coreografia, acrobática, mirabolante, ficamente exigente, o que raramente assistimos em palcos nacionais por conta de sua dificuldade. Por eles e também por Alessandra e Simone, vale a pena bater palmas para 'New York New York'

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