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Na cena e na escrita

Ciranda

  Na segunda-feira, juntei-me a um punhado de amigos para acompanhar a leitura deum peça escrita por outra amiga querida, Célia Forte, chamada Ciranda. É engraçado como reconhecemos as pessoas que gostamos e julgamos conhecer por alguns detalhes. Tanto aqui como no texto anterior, Amigas Pero No Mucho, há um humor ácido, um tanto impiedoso, aquele que prevalece mesmo que se perca o amigo.

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Por Ubiratan Brasil
Atualização:

Também há um predomínio total de personagens femininos. Com isso, é possível concluir que Célia é uma mulher bem humorada e profunda conhecedora de seu gênero. Mas também ela sabe das artimanhas teatrais. A peça trata das dificuldades de relação entre três gerações de mulheres de uma mesma família: avó, filha e neta. Em dois atos, elas se relacionam aos pares (primeiro avó e filha, depois filha e neta), o que revela uam boa sacada - duas atrizes conseguem viver dois papeis cada uma.

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Aí surge outra característica da Célia: a importância da família. Quem a conhece, sabe de seu poderoso poder agregador, capaz de manter inimigos de pele tomando chope juntos. E é justamente do excesso desse amor que trata Ciranda. Às vezes, a paixão familiar nos cega, fazendo-nos pensar que amamos demais e não somos compreendidos.

Analisado pela paixão dos sentimentos, Ciranda é tocante. Muitas pessoas não conseguiram segurar as lágrimas no final o que, do ponto de vista artístico, é um ganho sensacional. Para listar algo negativo, me pareceu existir um certo excesso no esquematismo de piadas, pois às vezes se repetem mas não surpreendem mais. Também acho perigoso o uso da leitura da cartas como solução para a trama - sua extensão pode dispersar ao invés de levar o espectador no laço.

Mas são detalhes que, durante a montagem, certamente podem ser solucionados. O que vimos no Teatro Eva Hertz foi uma leitura, com direção de José Possi Neto. Ou seja, as atrizes não desgrudaram os olhos do papel, tampouco se movimentaram devidamente. Assim, é possível esperar mais um espetáculo que toca no sentimento, sem se preocupar muito com a razão.

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