Melamed estreia no Canal Brasil

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Por Redação
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Patrícia Villalba / RIO

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Se, como se diz por aí, falta criatividade na televisão, o ator Michel Melamed teve, de uma vez, 26 ideias para 26 programas.Duas delas vão ao ar em cada um dos 13 episódios da série Campeões de Audiência, que amanhã (quinta-feira), à meia-noite no Canal Brasil. "Cada um dos formatos tem apresentador, história e roteiro próprios, são totalmente independentes. É um misto de pesquisa de linguagem e de formatos, com uma brincadeira e uma crítica sobre os passos mastodônticos da TV", explica Melamed, roteirista, diretor e apresentador do programa.

No Campeões de Audiência estão os programas que não teriam guarita num canal de televisão convencional - hoje em dia, só mesmo o Canal Brasil para apostar em iniciativas do tipo. "São ideias tão loucas que os projetos não seriam nem lidos até o final", arrisca o ator, citando os incríveis Viva Voz - "o primeiro talk show da TV feito pelo telefone" -, Celebrity Sono TV - uma conversa na beirada da cama de Rodrigo Santoro - e o Degustação das Águas - um bate-papo com Jorge Mautner, Letícia Sabatella e Luana Piovani em volta de uma mesa de águas.Para tentar explicar de onde veio tamanha inspiração, Melamed teve a seguinte conversa com o Estado:

De onde veio a ideia para criar o 'Campeões de Audiência'?

A motivação é a mesma de sempre: a medida da paixão.Mas a ideia surgiu da vontade de perceber a televisão de uma maneira diferente.Pensei: 'Que programa eu gostaria de fazer?'.Eu gostaria de fazer milhões de programas, que  questionassem por que a televisão se move tão lentamente, por que as coisas são tão repetidas e por que eu posso ficar seis meses sem ver televisão e te contar o que esta passando hoje.

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E até que ponto o programa é experimentação ou uma crítica à televisão?

O desejo é que ele seja as 20 mil coisas.Porque a ideia de obra de arte é essa.O programa quer tratar de mil assuntos.Um deles é a questão da obra de arte versus entretenimento.Outra é o assunto pontual de cada programa, e cada um tem uma pegada.Os Campeões de Audiência têm um público tão segmentado que nunca vão encontrar patrocinador.Obviamente isso é uma crítica, porque se você ligar a TV agora vai ver coisas que mal acredita que estejam no ar. É patético, inaceitável, é o horror.

Pelo que você me mostrou, deu para perceber que o humor é peça fundamental na crítica.

A brincadeira é discutir quais os limites que separam uma ideia estapafúrdia que está no ar hoje de uma coisa que se a princípio eu te contasse, ela pareceria estapafúrdia, mas no ar se mostraria um sucesso. Se há tantas ideias por aí, por que a televisão se move com tanta lentidão?

Preguiça?

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É...A pergunta "por que não está mudando?" não se restringe à televisão.  Tem a ver com o Brasil.Por que enquanto estamos aqui fazendo essa entrevista, tem alguém sendo torturado, passando fome?

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Filosoficamente falando...

O questionamento é: você tem cinco canais abertos e outros tantos a cabo, e a TV é o principal veículo de informação da população brasileira.Então a pergunta não é sobre televisão, é sobre o País.Daí, a minha resposta é que o Brasil está mudando e a televisão é um veículo recente, que pode mudar junto.Mas se você pensar, o cinema tem cem anos.Quantas linguagens existem no cinema?Centenas de linguagens de audiovisual.Televisão é audiovisual também e tem quase 60 anos!

Quando algum programa de gosto duvidoso faz sucesso, muita gente diz que o povo gosta de baixaria.A televisão moderna esbarra, então, no público?

Você tem de assistir a um dos programas, que chama TV TV.Parei no Largo da Carioca e botei uma TV no meio da praça, sentei para ver com as pessoas.

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E aí?

Não perca: todas as quintas no Canal Brasil (risos).Mas, de novo, a sua pergunta não se restringe à televisão. É claro que a gente acaba caindo numa discussão de mercado, de que você tem de usar linguagem fácil para atingir a maior quantidade de segmentos.A televisão precisa ser mais diversa, há espaço para muita coisa.E existem artistas dedicados a essa diversidade, mas, para ser elegante, há outras pessoas que trabalham de forma não muito generosa.A TV é uma ferramenta de um potencial enorme.Ela influencia muito, mas poderia influenciar mais e melhor. (*)

(*) Entrevista originalmente publicada no suplemento TV, do Estadão.

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