Lost teve a solução mais fácil

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Por Redação
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 Foto: Estadão

Como não queria soltar spoilers do último episódio e pensar melhor no que escrever sobre o desfecho de Lost, decidi escrever este post hoje, após a exibição do final no AXN. Assim,  48 horas depois de ver as cortinas se fechando, me sinto um pouco mais confortável para falar do tão esperado fim.

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Devo confessar que nutria a mais baixa expectativa para o fim. Sabia que, de certa forma, seria decepcionante. Impossível satisfazer por completo o fã que acompanhou a saga na ilha por seis anos. Mas, enfim, havia jurado para mim mesma que não seria muito exigente com Damon Lindelof caso o desfecho não me deixasse completamente feliz.

O que eu não esperava, entretanto, é que Damon Lindelof tivesse enganado os jornalistas, os fãs e até Stephen King por tantos anos. Lembro-me que, lá no início da série, Lindelofjá havia afirmado que os sobreviventes não estavam mortos e que purgatório não era a explicação para a série. Eu acreditei nele e passei seis anos afirmando a todos que sugeriam um destes dois desfechos que "não, eles não estão mortos nem no purgatório." Bem, acreditei numa mentira  e isso me chateou bastante.  Fiquei mais chateada pela sustentação desta mentira por parte dos produtores do que pelo fim, digamos, preguiçoso da série.

Final preguiçoso

Antes que os fãs ardorosos me crucifiquem, o fim de Lost não foi ruim. Teria sido melhor se os produtores não tivessem negado o desfecho espírita da trama nem tivessem jogado no lixo todas as teorias científicas que pipocaram em fóruns na internet. Afinal, para que toda a trama da viagem no tempo? E a explosão da tal bomba de hidrogênio? Pobre Faraday que de personagem-chave no meio do caminho se transformou em apenas mais uma alma perdida. 

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O fim de Lost foi preguiçoso por um motivo: qualquer dúvida que tenha ficado para trás, qualquer mistério sem explicação, qualquer personagem que não tenha tido seu desfecho pensado pelos roteiristas, qualquer peça fora do quebra-cabeça pode ser explicada em apenas três frases, uma de Desmond, uma de Kate e outra de Christian Shephard, o tal pastor cristão.

No episódio 16, Hurley pergunta a Desmond se Ana Lucia não vai com eles e Desmond responde: "Ela ainda não está pronta." No episódio 18, Kate diz a Jack: "Senti tanto a sua falta." Por último, também no capítulo final, Christian fala a Jack: "Todos morrem, um dia. alguns morreram antes de você, outros muito depois. Não existe agora." Christian ainda frisa que Jack precisava de todos e todos precisavam estar juntos "para seguir adiante." As cenas acima e os diálogos foram bem pensados. Pensados para não deixar ponto sem nó. E, para uma série que sempre prezou em esconder mistérios e símbolos, o vitral da igreja, que reunia todas as crenças e religiões, foi um todal exagero.

Agora, qualquer pergunta que façamos, a resposta está nas frases acima. Por que Aaron, que conseguiu sair da ilha, estava na igreja? Ah, já sei! Porque todos morrem um dia e o agora não existe. Ou seja, pode ter se passado muitos anos até que todos os personagens da igreja estivessem prontos para fazer a travessia para outra vida. desmond sempre teve razão ao dizer: "Te vejo em outra vida, brother." E, quem não estava na igreja, simplesmente ainda não estava pronto para fazer a tal travessia. Os personagens que perderam o rumo na história não foram simplesmente esquecidos pelos roteiristas. Eko, Nikki, Paulo, Artz, Ilana entre outros, simplesmente não estavam prontos.

Entre mortos e perdidos

 Muita gente ficou na dúvida se os sobreviventes morreram na queda do avião ou se a ilha foi real. Christian diz que a ilha foi real. Sob este ponto de vista, a ilha deve ser uma espécie de purgatório na Terra, um lugar em que as pessoas perdidas precisam completar suas missões antes de partirem para uma nova existência. Quem morreu na ilha, partiu no momento em que cumpriu essa tarefa e purificou sua alma. Já a realidade paralela é a antessala, digamos, do Paraíso. Ali, personagens como Jack, Sawyer, Hurley, Juliet tinham as vidas que sempre sonharam. Daí a insistência dos roteiristas de corrigir o termo realidade alternativa para realidade paralela. 

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Mais divertido sobre todo esse final de Lost é perceber que as pessoas que acompanhavam a série sem perder um só epísodio, discutiam teorias e divagavam sobre física e matemática erraram tudo sobre a ilha. Já aquelas pessoas que pouco sabiam sobre Lost ou que assistiam esporadicamente apenas como entretenimento acertaram o desfecho. Afinal, sempre ouvi pessoas que não acompanhavam fervorosamente a série afirmarem que "ah, eles estão todos mortos!"

Mesmo um pouco decepcionada, não acho que desperdicei seis anos da minha vida ao acompanhar Lost e tentar criar teorias mirabolantes. Esta foi uma experiência única na TV, sem sombra de dúvidas. E, de uma certa forma, ainda estou perdida, sem saber o que farei na próxima semana, quando chegar o dia de ver Lost.

Namastê!

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