Quebrando regras

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Por Redação
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Há quatro anos, quando estreou o espetáculo 'Improvável' (que rapidamente se tornou o mais popular de improvisação no Brasil), a Cia. Barbixas de Humor ainda não se considerava um grupo de improvisadores. "Éramos humoristas fazendo improviso. Mas não podíamos nos considerar improvisadores", afirma Anderson Bizocchi, lembrando as primeiras apresentações.

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Hoje, depois de muito rodar pelo Brasil e muito estudar (o grupo foi treinado por diversos nomes de grande expressão no cenário mundial da improvisação, como o canadense Frank Totino, discípulo fiel do precursor Keith Johnstone), eles já se enxergam de outra forma. Muito mais seguros, até para transpor, deliberadamente, algumas orientações básicas da cartilha do improvisador. Foi exatamente o que eles fizeram na última apresentação desta temporada, que o blog de Teatro foi conferir, ontem, no teatro Tuca.

Aparentemente era um espetáculo normal, com Bizzocchi, Elídio Sanna e Daniel Nascimento improvisando, e o humorista Bruno Motta como mestre de cerimônias. Depois de um curto stand-up de Motta, que arrancou as mais resgadas gargalhadas da plateia, a trupe barbixa anunciou que naquele dia não haveria a participação de um convidado, por problemas de agenda. Dado o aviso, pegaram o primeiro tema com a plateia e começaram a fazer o jogo do 'transforma'  -- em que dois jogadores iniciam uma cena e, quando o apresentador aciona a campainha, a cena paralisa para que outro improvisador substitua alguém e inicie uma nova cena a partir da posição de quem está no palco).

Eis que, nos primeiros minutos de jogo, uma figura de gorro, capa de chuva, capacete debaixo do braço e sacolas plásticas amarradas nos pés surge do meio da plateia e caminha para perto do palco. Após os primeiros protestos da plateia, pedindo para o sujeito sair da frente, ele se vira para a público e aí então todos percebem que se trata de 'Jackson Five', o mais famoso personagem do humorista Marco Luque, que, sob o pretexto de entregar um envelope para alguém chamado Elísio, ou Egídio (piada com o nome de Elídio Sanna), sobe no palco para improvisar com os demais. Com a regra básica de que para improvisar parte-se da neutralidade quebrada (com a presença de um personagem pré definido), o espetáculo tomou um rumo diferente, mais interessante.

Com uma atuação clownesca, Luque conseguiu fazer piada com tudo o tempo todo e não só no decorrer dos jogos. A primeira, de muitas, teve efeito imediato com uma salva de palmas fora de hora. Foi quando ele respondeu 'quem é?', ao ouvir a campainha para paralisar o jogo. A partir dali, todo comentário após a cena e todo gestual de 'mano da ZL', característico de Jackson Five, se somava à graça usual dos Barbixas, que se esmeraram para entrar no ritmo do convidado. E conseguiram.

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Ao final do espetáculo, a sensação nos bastidores era a de que a 'transgressão' à regra havia trazido resultados além dos imaginados. "Gostei. Foi um desafio, pois tive de pensar o tempo todo como o personagem, para reagir como ele, e não como eu mesmo", disse Luque.

A mesma empolgação via-se entre os Barbixas. "Foi um teste e parece que deu certo", disse Bizzocchi, indicando que outros personagens, de outros humoristas, devem surgir daqui em diante. "Sempre buscamos formas de tornar o espetáculo mais improvável" diz Sanna, fazendo trocadilho.

Em relação à quebra de regras, eles dizem que assumem esse risco por se sentirem mais seguros como improvisadores, algo que eles enxergam como um evolução em relação ao início, quatro anos atrás. "Regras são importantes, mas nos permitimos à vezes sair da linha para fazer jogo dentro do jogo. E nos conhecemos o suficiente para que isso não comprometa a cena", afirma Bizzocchi.

Os Barbixas fazem agora uma pausa de um mês na temporada, que se reinicia em 4 de agosto. Nesse meio tempo, eles viajam para o Canadá para estudar com o próprio Keith Johnstone, experiência que servirá para abrir mais a mente do trio para novas ideias, ainda que, em um tom de quem nunca para de fazer piada, Daniel Nascimento diga que o principal objetivo é comprar um iPad2 e melhorar a fluência no inglês.

Tuca (650 lug.). Rua Monte Alegre, 1024 - Perdizes, (11) 4003-1212. 70 min. 14 anos. Quintas, 21h30. R$ 50. A partir de 04/08. www.improvavel.com.br.

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