Além de conhecido por seus excessos e por criar geniais frases de impacto - cunhadas em entrevistas e 'viralizadas' em fenômeno bem anterior à existência da internet - Keith Richards sustenta há décadas a fama de ser um dos maiores criadores de riffs da história da guitarra.
Na verdade ele é tão bom nisso, que não raro são utilizadas suas composições para explicar o conceito de riff. Tudo bem, "Smoke on the water", do Deep Purple, ou "Iron man", do Black Sabbath, também são riff memoráveis. Mas é muito improvável que as 12 notas que compõem 'I cant get no (Satisfaction)' não sejam cantaroladas durante a explicação, mesmo depois desses outros exemplos.
E o guitarrista principal dos Rolling Stones tem uma coleção enorme de outras músicas em que a passagem da guitarra é tão ou mais emblemática do que a própria melodia vocal. Todas com riffs clássicos. "Brown Sugar", "Jumping Jack Flash", "Start me Up", "Honk Tonk Woman". Impossível não ouvir qualquer dos riffs iniciais dessas músicas e não bater o pé. Ele já teria o título de grande compositor de riffs ainda que Keith não tivesse gravado Satisfaction. Reza a lenda, reforçada pelo próprio, que Keith sonhou com o famoso riff, acordou, tocou na guitarra para gravar e o resto é historia.
Keith Richards está com 72 anos, mas quando aparece no palco empunhando sua Fender Telecaster com a correia bem alongada, deixando o instrumento pendurado de maneira propositadamente desleixada, é como se fosse um garoto. O mesmo garoto que leu o clássico da literatura inglesa David Coperfield, de Charles Dickens, e se encantou com o personagem Micawber, dando esse nome, anos mais tarde, a uma de suas guitarras. É justamente a Telecaster Micawber, com afinação diferente e equipada apenas com cinco cordas que o riff de "Honk Tonk Woman" acontece.
Sim, uma guitarra tem originalmente seis cordas, a saber, afinadas normalmente em Mi, La, Ré, Sol, Si e Mi. Mas Richards bebeu na fonte dos bluesman americanos dos anos 1920 e suas afinações alternativas, inventadas de improviso. E começou a usar uma guitarra com a disposição em Sol, Ré, Sol, Si e Ré, dispensando a sexta - e mais grossa - corda. Em sua genialidade, ele só precisou disso para compor boa parte dos riffs, que o colocaram para sempre na história do instrumento.