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Partituras sem contratempos

Por um novo verão do amor

Entre os próximos dias 3 e 13, o quase sempre tranquilo Hyde Park, em Londres, vai tremer ao som do British Summer Time, festival que terá como atração principal Neil Young e o Crazy Horse, dispostos a reeditar, 47 anos depois, o verão do amor.

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Por Carlos de Oliveira
Atualização:
 Foto: Estadão

Lá se vão 47 anos desde que hordas de jovens hippies decretaram que aquele verão de 1967 seria da paz e do amor, movido a acordes distorcidos de guitarras lisérgicas. Seria também um verão marcado pela política, por um basta à segregação racial e à guerra do Vietnã que, na altura, matava garotos americanos ao vivo e em cores pela TV. Em meio a essa mescla de sons pesados, cabelos longos e palavras de ordem, o rock amadureceu, poupando aquela geração de harmonias previsíveis e de versos recheados de baby, baby.

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Um exemplo: na cena musical de Los Angeles, Neil Young, um canadense temperamental e suscetível, seguiu as pegadas do Crazy Horse, uma banda que nunca desonrou seu nome nem sua índole. Pois Young e os cavalos loucos estão de volta. No próximo dia 12, eles serão a mais esperada atração do festival British Summer Time Hyde Park, em Londres. O verão do amor pode não estar de volta com a mística de 67, mas, com certeza, resiste firme em alguns de seus principais personagens.

Neil Young (dir.) e o Crazy Horse Foto: Estadão

Aos 69 anos e totalmente recuperado de um AVC sofrido em 2005, Neil Percival Young, nascido em Toronto, teve de passar por cirurgia para retirar um aneurisma. Seu talento, contudo, manteve-se intacto. Há dois anos, com o Crazy Horse, lançou o álbum Americana. Logo em seguida veio Psychedelic Pill. Apesar de manter carreira solo fecunda, Young sempre integrou bandas lendárias entre elas o Buffalo Sprinfield e cooperou com um dos primeiros power trios da história do rock, o Crosby, Stills and Nash, formado em 1968 por David Crosby (ex- Byrds), Stephen Stills (ex-Buffalo Springfield) e Graham Nash (ex-Hollies).

Para o show de verão no Hyde Park, a mesma guitarra distorcida. No programa do dia 12, além do Crazy Horse, Neil Young receberá convidados especiais no palco principal: The National, Tom Odell, Half Moon Run e Lucy Rose. No Barclaycard Theatre vão se apresentar Midlake, Caitlin Rose, Phosphorescent e Flyte. No Village Hall, os shows de Ethan Johns, Bruno Major e Webb Sisters. Finalmente, no Summer Stage, a vez de Jack Savoretti, To Kill a King e Hero Fisher.

De alguma forma, no Hyde Park, a rebeldia dos anos 60 estará de volta para matar as saudades de quem viveu (ou ouviu falar) a busca de estilos alternativos de vida, as utopias da contracultura, o movimento pelos direitos civis e a oposição às guerras. Esses valores, apesar de anunciados num verão longínquo, ainda estão aí para serem reafirmados neste e nos próximos verões.

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Serviço

O festival será realizado entre os próximos dias 3 e 13, assim dividido:

Dias Atração
3 Arcade Fire
4 Black Sabbath
5 The Libertines
6 McBusted
10 Tim Minchin
12 Neil Young & Crazy Horse
13 Tom Jones, Boyzone, Little Mix and More
Os shows começam às 13h30.
Preço: £66,60.
Crianças com menos de 16 anos precisam estar acompanhadas de um adulto.
Para ingressos: http://www.axs.com/uk/series/335/barclaycard-presents-british-summer-time-hyde-park-tickets?skin=bst&aff=aegliveuk_bst_artist_131213

 

 

 

 

 

 

 

 

 Quase selvagens

Wild Tales, de Graham Nash Foto: Estadão

É impossível dissociar a figura de Neil Young das de David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash, que formaram um dos primeiros power trios do rock, ao lado do Cream. Crosby, Stills, Nash & Young produziram  obras primas que marcaram o fim dos anos 60 e início dos 70, estendendo-se até os 90. Talentos musicais raros, mas personalidades difíceis, irascíveis até, protagonizaram histórias que foram da alegria extrema aos mais devastadores efeitos das drogas. Alguns deles, Crosby especialmente, experimentaram o gosto amargo da degradação humana. Mas sobreviveram e a vida desse trio que, às vezes, virava quarteto, está nas 360 páginas de Wild Tales, escrito por Nash, com a autoridade de quem viu glórias e fracassos de dentro.

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De leitura acessível (ainda não há uma versão em português), Nash imprime à narrativa um tom direto, coloquial, sem meias palavras. Descreve sua vida sem grandes perspectivas artísticas numa soturna Manchester, no norte da Inglaterra, onde integrou os Hollies, com relativo sucesso.

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Durante uma excursão aos Estados Unidos, em Los Angeles o inglês de jeito provinciano deslumbrou-se com uma nova ordem que se desenhava no cenário musical norte-americano. Ficou amigo de Mamma Cass Elliot, na casa de quem conheceu David Crosby, insatisfeito com o rumo tomado pelos Byrds. Outro insatisfeito, este com o Buffalo Springfield, Stephen Stills aproximou-se aos poucos.

De volta à Inglaterra, os músicos da Califórnia permaneceram em sua cabeça até que um dia Nash decidiu que seu futuro estava mesmo do outro lado do Atlântico. Abandonou os Hollies. Nascia o Crosby, Stills & Nash e o álbum de mesmo nome, com as antológicas Suite Judy Blue Eyes e Wooden Ships. Em seguida, com a participação de Neil Young, veio o álbum Déjà Vu. O resto dessa história se desenrola entre extremos nos quais vale a pena mergulhar em Wild Tales.

 

Maturidade 

Croz, o novo álbum de David Crosby Foto: Estadão

E para provar que os ideais de paz e amor do verão de 1967 ainda estão presentes, vale a pena fazer uma menção ao novo álbum de David Crosby, intitulado Croz, seu apelido. Depois de 20 anos sem gravar, Crosby se impôs um desafio: cantar onze músicas inéditas e passar ao largo dos best of. O resultado é tocante. Aos 71 anos sua voz está límpida, com o vibrato que sempre a caracterizou. Com harmonias perfeitas, marca indelével do velho Crosby, Stills & Nash, Croz é um álbum para se ouvir sem sustos, com a certeza de que uma música será melhor do que a outra. Tudo fruto da maturidade.

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