Vejam só quem continua na ativa e fazendo sucesso como cantor, produtor, ator e diretor de filmes. Muitos podem não se lembrar dele. Os mais jovens talvez nem o conheçam. É bem verdade que seu nome não sugere lá muita coisa, mas o fato é que Mickey Dolenz é famoso desde a infância e continua na estrada. Como o objetivo, aqui, não é fazer mistério, vamos aos fatos. Dolenz foi o baterista dos Monkees, uma banda de rock inventada (sim, inventada) em 1965, em Los Angeles, Califórnia, com a ousada missão de fazer frente ao sucesso dos Beatles nos Estados Unidos.
A ideia de criar os Monkees partiu da rede NBC. A invasão musical britânica dos anos 60, tendo os Beatles à frente, atormentava o showbiz e a indústria fonográfica norte-americana. De orgulho e bolsos feridos, os executivos da NBC decidiram que tamanha afronta não poderia ficar sem uma resposta. E foram aos jornais. Não para protestar, certamente, mas para colocar um anúncio no mínimo transviado, para usar um termo rebelde da época. A proposta era abrir um concurso para selecionar quatro jovens que, numa série de TV, assumiriam o papel de músicos em uma banda de rock. Uma banda ficcional.
"Loucos" - O texto do anúncio era sugestivo. Falava da necessidade de a NBC encontrar "quatro loucos entre 17 e 21 anos". Apresentaram-se 437 candidatos. Foram selecionados David Jones, um jovem ator inglês de Manchester, cuja companhia teatral estava nos EUA representando Oliver; Peter Tork, ator e multi instrumentista; Michael Nesmith, um músico country e Micky Dolenz. Vale lembrar que Peter Tork tocou piano com Stephen Stills (do Crosby, Stills and Nash), na época no Buffalo Springfield. Aliás, foi Stills quem alertou Tork para o anúncio nos jornais. Nasciam os Monkees.
Menino do Circo - Mickey Dolenz vinha de uma família de artistas e tinha uma certa fama na televisão. Entre 1956 e 1958, com 9 anos, foi o protagonista da série Circus Boy ou O Menino do Circo, que no Brasil embalou a imaginação de uma geração de garotos e garotas, no início dos anos 60.
No papel de Corky Wallace, ele interpretava o menino cujos pais acrobatas (Os Falcões Voadores)haviam morrido depois de caírem do trapézio. Foi adotado pelo palhaço Joey e pelos demais integrantes do circo Burke and Walsh Circus Family.
Corky tinha dois amigos inseparáveis: o elefante Bimbo e o chimpanzé Bobo. Foi um sucesso na antiga TV Excelsior, o velho canal 9.
Vejam a abertura do seriado e um trechinho de um dos episódios:
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Rebelião - Formada a banda, o sucesso veio logo. No início, músicos de estúdio se ocupavam de toda a parte instrumental. Os atores apenas cantavam. Dolenz era bom cantor desde a época de O Menino do Circo. Depois, rebelaram-se contra as determinações dos produtores da NBC e cada um assumiu seu instrumento, inclusive nas gravações, e passaram a fazer apresentações ao viv0.
Dolenz tornou-se um baterista razoável. Nesmith adotou, entre outras, uma guitarra Gretsch semelhante à que George Harrison usava na época. Tork assumiu o baixo e os teclados. Jones cantava bem e se virava com pandeiros e maracas. Os amplificadores, não por coincidência, eram os Vox , os mesmos dos Beatles. Só não havia canhotos na banda.
Na abertura do seriado, a música Hey, Hey, We're The Monkees, que tocou à exaustão nas rádios brasileiras. Lembram-se?
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Com os Beatles - Assim como os Beatles, cujo nome confundia-se com beetles (besouros),a expressão Monkees poderia sugerir monkeys (macacos, afinal faziam muita micagem) ou algo derivado de monk (monge). O elo com os Beatles era estreito até no sotaque do norte da Inglaterra de David Jones. Famosos na América, conquistaram a Europa, especialmente a Inglaterra. E os Beatles, pessoalmente. Em excursão, visitaram Paul, George, Ringo e John e foram muito bem recebidos. No aeroporto de Londres, uma gritaria de um exército de mocinhas animadas.
A festa dos Monkees durou até 1968, quando os músicos-atores (ou vice-versa) se separaram oficiosamente. Surreal, a série foi, aos poucos, se tornando psicodélica e os produtores concluíram que o projeto estava moderno demais para o gosto americano.
Nicholson - Antes disso, porém, a série ganhou dois prêmios Emmy. A banda gravou nove álbuns e teve um longa-metragem intitulado Head (no Brasil, Os Monkees Estão Soltos), escrito por Jack Nicholson. Uma nota interessante: diz a lenda que o sucesso de David Jones era tão grande que um outro inglês também chamado David Jones teve de mudar seu nome para David Bowie para seguir carreira sem concorrência.
O desejo de independência artística dos integantes da banda, cada vez mais em atrito com as normas da NBC, levaram os Monkees a um final oficial, em 1970. Dolenz, Tork e Nesmith seguiram carreiras solo e formaram bandas.
Morte - No fim dos anos 80 foram feitas tentativas de ressuscitar a banda, a ponto de seus álbuns voltarem a fazer sucesso nos EUA. Nos anos 90, reuniram-se para o especial Hey, Hey, We're the Monkees. Outros doisencontros ocorreram em 2001 e 2011. Em 2012, vítima de um fulminante ataque cardíaco, David Jones morreu.
Hoje, é uma grande surpresa ver um Mickey Dolenz tão produtivo, com uma invejável agenda de shows e muita disposição física do alto de seus quase 70 anos. Ator, cantor, produtor, diretor de filmes, o eterno menino do circo dá sequência às suas aventuras e inspira os saudosistas a inevitáveis divagações e a uma breve viagem no tempo. De alguma forma, os Monkees ainda estão por aí.
Só falta acrescentar que a banda deixou um rastro de sucessos. Vale recordar alguns deles:
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Nem o burrico, do Shrek, resistiu aos Monkees:
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