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Partituras sem contratempos

Donovan, o trovador escocês, volta à estrada com álbum novo.

Aos 69 anos e impulsionado pelo álbum "Donovan Retrospective", o bardo escocês, ídolo britânico nos anos 60, volta à cena para comemorar os 50 anos de sua carreira. Nome de destaque no folk/rock britânico dos anos 60, Donovan foi colaborador dos Beatles e lançou vários sucessos, muitos deles tocados no Brasil, tais como 'Atlantis', 'Laleña' e 'Hurdy Gurdy Man'.

Por Carlos de Oliveira
Atualização:

Lá pela metade dos anos 60 aquele rapaz com ares de duende foi apresentado como uma resposta britânica ao fenômeno Bob Dylan. Ao que parece, ele nunca levou a sério essa ingênua jogada de marketing nem Dylan jamais se mostrou preocupado com eventuais concorrências. O fato é que Donovan Philips Leitch, ou apenas Donovan, tinha luz própria e conquistou bem mais do que os exíguos 15 minutos de glória geralmente concedidos a aventureiros ou a simulacros de seja lá o que for. Longe disso, Donovan era autêntico em sua música e em sua poesia.

Donovan, aos 69 anos. Cantor e compositor escocês vive hoje na Irlanda e prepara 'tour' a partir de outubro.  Foto: Estadão

Paz e amor - O escocês de Glasgow, com seu sotaque rascante e cara de elemental celta, revelou-se um bom artista. Sensível, cercado de bons músicos, especialmente dos quatro beatles, soube lidar muito bem com a cena folk, com as baladas e com o lisergic rock, contribuindo para o movimento que conseguiu rimar verão/paz/amor em qualquer língua.

Meados dos anos 60: resposta britânica a Bob Dylan.  Foto: Estadão

Na Índia, tocando violão com os Beatles: contribuições para algumas de suas músicas.  Foto: Estadão

Elementos indianos em sua músicas, tais como a cítara.  Foto: Estadão

Sucesso nos anos 60, quando encarnava o trovador celta.  Foto: Estadão

'Retrospective", seu novo álbum duplo: 50 anos de carreira.  Foto: Estadão

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Depois de experimentar os altos e baixos impostos pela cruel passagem tempo e pelas modas que vêm e vão, o velho Donovan, hojecom 69 anos, volta à estrada no dia 3 de outubro. Em tour pelo Reino Unido, vai celebrar seus 50 anos de carreira, impulsionado pelo lançamento de Donovan Retrospective, uma antologia reunida em um álbum com dos CDs.

"Atrações fatais" - Donovan experimentou o sucesso e o ostracismo. Conta que logo depois do apagar dos holofotes, ele viveu o inferno. Foi preso por posse de maconha, "embora eu nunca tenha sido um usuário de drogas, só fumava eventualmente". Para ele, tudo não passou de uma "armação". "Ser famoso era difícil, era perigoso. Havia atrações fatais. Basta olhar o que aconteceu com John (Lennon)". O próprio Donovan diz ter sofridoameaças. "Uma vez uma fã ligou para Linda, minha esposa, e disse que eu havia sido o grande amor da vida dela e que, por isso, iria matá-la."

Esgotados o flower power e o peace and love, Donovan valeu-se da poesia para manter-se ativo. "Embora eu componha musicas, sou um poeta. Já fui poeta em uma vida anterior, com conexões com poemas e seus criadores, tais como os da geração beatnick, entre eles Alan Ginsberg e Jack Kerouac. Depois enveredei pelo folclore celta e pela cultura indiana".

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Na Índia - Donovan apresentou os Beatles à meditação transcendental, do Maharishi Mahesh Yogi. Em 1968 foi com eles para um retiro na Academia de Meditação, em Rishikesh, aos pés dos Himalaias. Foi uma época de fecunda criação para os Beatles e para Donovan, Os cinco trocaram várias experiências e compuseram juntos. Algumas das músicas passaram a integrar o Álbum Branco. George Harrison escreveu um verso para Hurdy Gurdy Man, um clássico de Donovan. Este, por sua vez, diz ter ensinado a John Lennon um intrincado dedilhado no violão, que pode ser ouvido nas músicas Dear Prudence e Julia, ambas do Álbum Branco.

As rádios brasileiras tocaram muitas músicas de Donovan. Boas músicas como Hurdy Gurdy ManMellow Yellow, Atlantis, Wear Your Love Like Heaven, Jennefer Juniper, Laleña, Happiness Runs, Brother Sun, Sister Moon (tema do filme Irmão Sol, Irmã Lua, sobre a vida de São Francisco e Assis, de Franco Zeffirelli, de 1972).

Ouça Hurdy Gardy Man, música de Donovan, de 1968:

Lendas - A música Hurdy Gurdy Man tem uma história a parte e integra uma daquelas várias lendas do rock. Donovan diz que ela foi composta em Rishikesh, na Índia, com uma contribuição de George Harrison. O beatle teria escrito uma estrofe de quatro versos, que acabou não entrando na versão final da canção, já que havia um limite de tempo (não mais de três minutos) imposto pela gravadora. Resultado: as linhas de Harrison foram cortadas, mas sobreviveram no papel e seriam estas:

When the truth gets buried deep Beneath the thousand years asleep Time demands a turnaround And once again the truth is found.

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Outra lendas cercam a canção. Quem, afinal, fez o fantástico solo de guitarra? Quem tocou baixo? Quem tocou bateria? Donovan, em sua autobiografia, disse que o solo de guitarra foi feito por Jimmy Page. A bateria teria sido obra de John Bonham. O baixo ficou com John Paul Jones. Quer dizer, à exceção de Donovan no vocal, Hurdy Gurdy Man foi gravada pelo ainda embrionário Led Zepellin.

Em tempo: Hurdy Gurdy Man teria sido composta originalmente para Jimi Hendrix tocar e cantar, mas, com outros compromissos, ele não estava disponível no momento. Há ainda quem ouça Alan Parker e Jeff Beck na guitarra. E até Paul McCartney no contrabaixo.

Grandes músicos - Lendas ou não, o fato é que Donovan sempre foi acompanhado por bons músicos. No clássico Barabajagal ele teve como apoio o Jeff Beck Group, com Ronnie Wood (dos Rolling Stones) no baixo, Lesley and Madeleine nos backing vocals  e com o icônico Nicky Hopkins nos teclados.

Ouça Barabajagal, do álbum de mesmo nome, de 1969:

Ouça Jeneffer Juniper, com Donovan (1968):

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Ouça Atlantis, de 1968:

De volta - As histórias em torno de Donovan são ótimas, mas, como tudo nas lendas do rock, há controvérsias.  Quem sabe, um dia, o tempo venha a esclarecer tudo. Ou, quem sabe, deixar tudo como está, o que já está muito bom. De concreto mesmo é que Donovan está de volta e isso é o que importa.

 

 

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