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Partituras sem contratempos

Charlie Parker e o curto voo de um pássaro

Se vivo fosse, Charlie Parker, criador do bebop, gênio do sax alto e deus no Olimpo do jazz, faria 95 anos neste 29 de agosto. Mas Bird, seu apelido, foi sempre apressado. Casou-se aos 15 anos. Morreu aos 34. Estava um trapo. Consumido pela heroína e pelo álcool, tinha a aparência de um homem de 65 anos. Deixou uma obra primorosa.

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Por Carlos de Oliveira
Atualização:

Mais do que um mera efeméride, o dia 29 de agosto tem importância especial para o jazz. Nessa data, em 1920, nascia em Kansas City, Missouri, Charles Parker Jr., o Yardbird ou apenas Bird, criador do bebop, o maior sax alto de todos os tempos. Faria hoje 95 anos, mas morreu aos 34, em Nova York, devastado pelo álcool e pela droga. Estava tão depauperado, que o médico legista que fez a autópsia de seu corpo escreveu em seu relatório: homem negro, 65 anos.

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Pressa - Sua  breve história de vida é igual à de muitos outros meninos negros americanos: abandonado pelo pai ainda muito pequeno e ligado a uma mãe zelosa que fez o possível para tirá-lo da tristeza. Economizou e deu-lhe de presente um saxofone, um sax alto. Uma mãe profética. Charlie foi precoce em quase tudo. Aos 11 anos, mergulhou na maconha. Aos 15, casou-se pela primeira vez e migrou para o maior de seus pesadelos, a heroína.

Por sorte, não abandonou o sax. Tinha imensa agilidade naquelas chaves todas. Chegou a ser reconhecido na Kansas City natal, mas mudou-se para Nova York, onde foi forçado, por um tempo, a trocar o instrumento por uma pia onde lavava os pratos sujos de um restaurante.

Ouçam Charlie Parker e Dizzy Gillespie, criadores do bebop, em 1951, quando receberam o prêmio de melhor sax alto e melhor trompete.

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Bebop - No Harlem conheceu Dizzy Gillespie e a interação de ambos foi regida por uma química poderosa. Virtuosos em seus instrumentos e em suas concepções de fraseados e harmonias, criaram um novo estilo de tocar, com ataques sincopados, ágeis, rápidos, que lembravam o martelar de trabalhadores que construíam as estradas de ferro da América. Esses martelos faziam um som parecido com be  e bop. Deram a esse novo estilo o nome de bebop. Bem mais do que uma onomatopeia, o bebop virou uma escola.

Ouça a Yardbird Suite, com Charlie Parker:

Amargurado - Criam peças antológicas: Yardbird Suite, Ornithology, Bird of Paradise. Incorporou o apelido: Bird. Ao contrário de um pássaro, Bird nunca foi livre. Sua dependência da droga o levava de rehab a rehab. Bêbado, quebrou quartos de hotéis. Arruinado financeiramente, não pôde pagar o tratamento da filha Pree, levada por uma fibrose cística. Amargurado, morreu em 12 de março de 1955, no Standhope Hotel, em Nova York.

Charlie Parker, vida curta, obra extensa. Teria hoje 95 anos.  Foto: Estadão

Entre os mestres - Foi fulminado por um ataque cardíaco, mas não só isso. Tinha uma pneumonia, uma úlcera gástrica e uma irreversível cirrose hepática. Teve pressa também para morrer. Deixou um legado comparado ao dos grandes mestres do jazz: Miles, Coltrane, Ellington, Armstrong. Bird voou cedo, muito antes de completar 95 anos.

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