Carlos de Oliveira
06 de julho de 2015 | 16h06
Num certo dia 6 de julho de 1957, um sábado, início do verão inglês, um jovenzinho de 16 anos, de camisa xadrez e ares de rebelde, tocava com sua banda no jardim da St. Peter’s Woolton’s Parish Church, em Liverpool. Minutos antes, ele e seus amigos tentavam tocar e se equilibrar na carroceria de um caminhão em movimento, durante a parada que anunciava mais uma festinha patrocinada pela igreja.
Os Quarrymen no dia 6 de julho de 1957, na carroceria de um caminhão e, depois, no jardim da St. Peter’s Church. De camisa xadrez, o jovem John Lennon.
No intervalo entre duas seleções de músicas, um outro jovem, este mais novo, de 15 anos, chegou mais próximo da banda. Estava impressionado com o garoto de camisa xadrez. Apresentaram-se.
_ James Paul McCartney, disse o mais jovem.
_ John Winston Lennon, disse o de camisa xadrez.
Mesmos gostos – Há exatos 58 anos, o que se tornaria a mais famosa dupla de compositores do pop-rock se via pela primeira vez. John já tocava havia algum tempo com a Quarrymen, uma banda de skiffle. Tinha um violão barato e um topete que lhe dava um ar de bad boy americano. Tocava skiffle, mas gostava de rock. Paul tinha mais ou menos o mesmo gosto, embora viesse de uma casa onde o pai, um negociante de algodão, tocava piano e cantava standards vindos dos Estados Unidos.
Paul já tinha ouvido falar dos Quarrymen. Para vê-los de perto, foi à festa da igreja em companhia do amigo Ivan Vaughan, que já havia tocado na banda de John. Estava bem vestido, de paletó branco com filetes prateados e calça preta. Nas costas, um violão. John não se impressionou. Para ele, tratava-se de mais um garoto curioso. Conversaram rapida e informalmente, mas o suficiente para que Paul lhe desse algumas dicas sobre como afinar os instrumentos.
Canhoto – Mesmo sabendo que os Quarrymen logo voltariam para o palco improvisado, Paul foi além. Pegou seu violão e começou a tocar. Foi então que ele chamou a atenção de John e dos outros rapazes da banda (Eric Griffiths, Colin Hanton, Rod Davis, Pete Shotton e Len Garry). Paul, era canhoto. E não só isso. Tocava bem. E cantava. Mostrou um medley de músicas de Little Richard. Cantou Twenty Flight Rock, de Eddie Cochran, e finalizou com Be-Bop-A-Lula, de Gene Vincent.
De personalidade forte, John não deixou por menos. Pegou seu violão e passou a cantar Come Go With Me, que dias antes ouvira no rádio. Ele sabia apenas algumas frases da letra, apenas o refrão. O resto ele inventou. Mesmo assim, cantou bem e impressionou o jovem Paul. Terminada a festinha na igreja, cada um voltou para suas casas, para suas vidas.
Convite – Semanas depois, Pete Shotton viu Paul pedalando sua bicicleta pelas ruas de Woolton e lembrou-se de uma conversa que tivera dias antes com John. Ambos haviam considerado a hipótese de convidar o garoto canhoto para tocar nos Quarrymen. O convite foi feito ali mesmo na calçada. Paul pensou por alguns instantes e aceitou a proposta.
Depois disso…
Bem, depois disso, Paul chamou George e todos chamaram Ringo.
John, Paul, George e Ringo.
O resto da história todos já conhecem.