Num certo dia 6 de julho de 1957, um sábado, início do verão inglês, um jovenzinho de 16 anos, de camisa xadrez e ares de rebelde, tocava com sua banda no jardim da St. Peter's Woolton's Parish Church, em Liverpool. Minutos antes, ele e seus amigos tentavam tocar e se equilibrar na carroceria de um caminhão em movimento, durante a parada que anunciava mais uma festinha patrocinada pela igreja.
No intervalo entre duas seleções de músicas, um outro jovem, este mais novo, de 15 anos, chegou mais próximo da banda. Estava impressionado com o garoto de camisa xadrez. Apresentaram-se.
_ James Paul McCartney, disse o mais jovem.
_ John Winston Lennon, disse o de camisa xadrez.
Mesmos gostos - Há exatos 58 anos, o que se tornaria a mais famosa dupla de compositores do pop-rock se via pela primeira vez. John já tocava havia algum tempo com a Quarrymen, uma banda de skiffle. Tinha um violão barato e um topete que lhe dava um ar de bad boy americano. Tocava skiffle, mas gostava de rock. Paul tinha mais ou menos o mesmo gosto, embora viesse de uma casa onde o pai, um negociante de algodão, tocava piano e cantava standards vindos dos Estados Unidos.
Paul já tinha ouvido falar dos Quarrymen. Para vê-los de perto, foi à festa da igreja em companhia do amigo Ivan Vaughan, que já havia tocado na banda de John. Estava bem vestido, de paletó branco com filetes prateados e calça preta. Nas costas, um violão. John não se impressionou. Para ele, tratava-se de mais um garoto curioso. Conversaram rapida e informalmente, mas o suficiente para que Paul lhe desse algumas dicas sobre como afinar os instrumentos.
Canhoto - Mesmo sabendo que os Quarrymen logo voltariam para o palco improvisado, Paul foi além. Pegou seu violão e começou a tocar. Foi então que ele chamou a atenção de John e dos outros rapazes da banda (Eric Griffiths, Colin Hanton, Rod Davis, Pete Shotton e Len Garry). Paul, era canhoto. E não só isso. Tocava bem. E cantava. Mostrou um medley de músicas de Little Richard. Cantou Twenty Flight Rock, de Eddie Cochran, e finalizou com Be-Bop-A-Lula, de Gene Vincent.
De personalidade forte, John não deixou por menos. Pegou seu violão e passou a cantar Come Go With Me, que dias antes ouvira no rádio. Ele sabia apenas algumas frases da letra, apenas o refrão. O resto ele inventou. Mesmo assim, cantou bem e impressionou o jovem Paul. Terminada a festinha na igreja, cada um voltou para suas casas, para suas vidas.
Convite - Semanas depois, Pete Shotton viu Paul pedalando sua bicicleta pelas ruas de Woolton e lembrou-se de uma conversa que tivera dias antes com John. Ambos haviam considerado a hipótese de convidar o garoto canhoto para tocar nos Quarrymen. O convite foi feito ali mesmo na calçada. Paul pensou por alguns instantes e aceitou a proposta.
Depois disso...
Bem, depois disso, Paul chamou George e todos chamaram Ringo.
John, Paul, George e Ringo.
O resto da história todos já conhecem.