Mente que é tomada de certezas é mente que deixou de refletir.
As certezas são os portos-seguros a que nos agarramos, cansados de tanto refletir e de tantos questionamentos.
Porém, não é possível imaginar que o porto seja o final do caminho, por mais seguro que esse parecer.
A vida é travessia, de porto a porto, sempre em busca.
Por isso, uma coisa é atingir o porto seguro de uma certeza, outra diferente é se convencer de essa certeza ser tudo. Nesse momento, sua mente teria deixado de refletir.
As certezas, por isso, e paradoxalmente, podem ser mais enganosas que as incertezas, pois estas pelo menos garantem que a busca continuará.
O brilho inefável de uma certeza é muito bom, nos insufla ânimo e nos prové com força suficiente para apresentar nossos argumentos definitivos a uma discussão, por exemplo, e nos sentimos ofendidos se por acaso esses forem questionados.
Não deveríamos nos ofender, mas isso só aconteceria se no fundo nós mantivéssemos atualizada a idéia de que todas as certezas são temporárias, que duram apenas até um novo questionamento, com sua inerente incerteza, tomar nossas mentes.
Manter o dinamismo da mente é essencial, sem que, no entanto, isso signifique nos torturar com o ricochete constante entre uma dúvida e outra.
O brilho da mente inteligente consiste em pular de uma certeza a outra, sem pudor de renegar o que antes era afirmado para agregar um novo conceito ao anterior.
Esse dinamismo preserva a flexibilidade dos posicionamentos.
Quantas pessoas se atrevem a viver assim?
Próximo boletim será publicado às 21h13 de 17/6/12