Paixão é um dos instantes perfeitos que a alma humana anseia, porque reconhece nesse a concentração de forças, a convergência dos desejos que elimina todo dilema e dúvida que tanto atormentariam e atormentam normalmente.
Paixão, contudo, não pode ser fabricada, pois ou acontece espontaneamente ou simplesmente não é paixão, é um cenário racionalmente fabricado para enganar o coração. Porém, coração algum consegue ser enganado. Fazer isso seria confundir cosmética com estética, são coisas diferentes e produzem resultados diferentes.
O instante perfeito, porém, não se circunscreve à paixão, sendo essa, inclusive, a manifestação mais reduzida da perfeição experimentável por toda alma humana.
Acontece apenas que as outras perfeições, por não passarem pelos 5 sentidos físicos, não parecem tão desejáveis, pois requerem o esforço de dominar esses sentidos físicos e elevá-los a outra dimensão maior, mais abrangente e sofisticada, uma para a qual ainda não temos nomes exatos em nossa civilização.
A perfeição é um anseio legítimo da alma humana, mas como a civilização atual é bastante preguiçosa, até dentro dos consultórios psicológicos circula o conselho, muito sensato, de que os pacientes deveriam abandonar o anseio de perfeição, já que produziria muita frustração e sensação de inferioridade.
Não me canso de afirmar que não há incongruência alguma entre ansiar a perfeição e não sermos ainda capazes de produzi-la. Afinal, as melhores coisas da vida não são encontradas prontas, são fruto de empenho e esforço, e se a perfeição implicar o esforço de toda uma vida para ser desfrutada apenas por um instante, asseguro a você que esse ínfimo instante fará valer toda a vida de esforço, não se podendo dizer o mesmo de uma vida acomodada na mediocridade, sempre à espera de uma nave extraterrestre que venha a produzir algum evento fantástico, algo que nunca ocorrerá.