O sociólogo francês Alain Ehrenberg bem disse que a Era pós-moderna começou numa quarta-feira à noite, num outono da década de 1980, quando num talk-show uma mulher chamada Vivienne, na presença de seis milhões de telespectadores declarou nunca ter experimentado um orgasmo durante seu casamento com Michel, devido à ejaculação precoce dele. Nesse momento, os meios de comunicação passaram a servir como uma espécie de confessionário para que o que até então era privado se tornasse público.
Este conceito acadêmico só veio a confirmar a determinada tendência do que já era prática consagrada, falar qualquer coisa a qualquer momento; os avanços tecnológicos só aumentaram a ressonância desse ato e a privacidade foi para o espaço; francamente me admira, às vezes, testemunhar discussões a esse respeito na Internet, pois o que se confirma através das atitudes é que não se deseja privacidade, o que se deseja é exposição.
Faço estas constatações sem tom de crítica, as observo e registro e especulo a direção que isso imprime à civilização humana.
Enfim, toda essa introdução foi para situar você a respeito deste momento, no qual as normais confissões que poderiam ser presumidas como inofensivas podem facilmente adquirir um tom mais ofensivo, pois a gente nunca sabe quando uma palavra saída de nossa boca será ouvida de tal ou qual maneira, radicalmente diferente da intenção original.
A recomendação é que você fale o que for estritamente necessário e com a firme intenção de criar um movimento favorável em assuntos de interesse verdadeiramente público, ao passo de se abster de expor acontecimentos privados.