A civilização moderna é ateia, admite os deuses apenas como apêndices aos quais volta sua atenção em casos de emergência, não lhes permitindo nenhuma intervenção caso isso não seja estritamente necessário.
A vida e o Universo são medidos com a razão humana, não muito ampla, sempre tingida de preconceitos e sempre tendenciosa também, e se por acaso algum deus restou para indicar a existência de algo superior, esse se chama dinheiro.
Essa falta de honrar devidamente algo superior não é tão inofensiva quanto parece, pois transferido esse comportamento ao âmbito dos governantes resultou em que, apesar de que teoricamente eles e elas deveriam ser competentes no domínio da coisa pública, que é maior do que os indivíduos, acabou resultando que com boa lábia, fazendo parecer que sabem algo, tornaram a propaganda de si mesmos mais eficiente do que o ato de governar. Tudo porque a vida e o Universo são medidos pela razão humana, que só quer saber de si mesma.
Quando a ralé moral ocupa o lugar do governo começa o ciclo da injúria, que sempre termina em violência, pois em última instância será a única forma de o governo despreparado se manter na posição.
Quando as pessoas recuperam o juízo, porém, e percebem que o governo é uma necessidade produzida pela existência de algo superior, então o ciclo da injúria termina e começa o da dignidade.
Nada disso, contudo, acontece automaticamente, os humanos começam o jogo, eles mesmos devem administrá-lo e, quando necessário, mudar radicalmente as regras para essas se adaptarem às reais necessidades de se preservar a coisa pública.