E o dia chega de sua alma se entregar cansada, destituída de toda glória, sem amarras, sem nada a perder, nem sequer munida da tola esperança de desejar que por não ter nada a perder haveria tudo a ganhar. Não, nem isso sequer!
Esse momento não merece lágrimas, o olvido o sobreleva, o destino sopra seu vento, os olhares se estranham e resta só o velho e conhecido vazio, a familiaridade do nada, sem saudade, sem esperança, um perpétuo fim e recomeçar.
Porém, eis que numa hesitação da certeza do nada, surge célere a profunda apreciação do que significa a vida, a vontade de alcançar outrem, de compartilhar, de oferecer calor, de apresentar a dádiva do sacrifício feito no instante do vazio, a entrega total, compreensão, aceitação, perdão.
E então... a cegueira cobre novamente, a ignorância, as respirações distantes, desconhecidas onde antes havia familiaridade, adversários onde antes havia amizade.
Assim a vida passa, alheia à desoladora batalha que se desenvolve no coração de nossa humanidade.