Li em algum lugar esta confissão de Alfred de Musset (1810-1857), poeta e dramaturgo que é meu vizinho de bairro, no cemitério de Père Lachaise: "Depois de toda uma vida de prazeres, depravação e divertimento, terminei por compreender que a única coisa que consola de verdade, é o trabalho."
Não que eu queira bancar a moralista de plantão nas comemorações de ano novo, citando a reconversão de Musset que, entre muitas namoradas, teve um caso sério com George Sand. Nada disso! Por mim, ele poderia perfeitamente ter continuado na gandaia até se mudar para o Père Lachaise. O que, aliás, infelizmente, este romântico fez cedo demais por causa de depressão, álcool e tuberculose.
Só a ocupação manual ou intelectual consola
Cito este escritor, pois também acredito, como ele, que a preguiça é uma praga desperdiçadora de talentos e que, realmente, só a ocupação manual ou intelectual consola. O trabalho, não importa de que tipo for, é a única coisa que nos distancia de nós mesmos, no melhor sentido. Ou seja, nos afasta do egocentrismo e do poço de tristeza e melancolia que é pensar demais em si próprio.
Quando trabalhamos - além de nos respeitarmos e auto valorizarmos - nos interessamos pela vida, pelos outros e pela reflexão. É sobretudo por isso que considero o desemprego uma tragédia. E o ócio, uma "ferrugem" da alma que, como dizia o grande Victor Hugo, "nos consome mais do que o esforço".
Todo mundo se pergunta o que é "viver bem". Para mim, viver bem é - onde quer que se esteja e seja qual for a nossa idade - simplesmente, trabalhar.