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Arte, aqui e agora

O Louvre ultrapassado por sua época

Quando estive na apresentação da exposição "Vermeer e os mestres da pintura de gênero" para a imprensa, no museu do Louvre, me pareceu absurda a exiguidade do espaço e a falta de antevisão museológica no caso de uma gigantesca afluência do público. Além do novo e previsível fenômeno da nossa época que é o das visitas culturais em massa, quem não gostaria de ver de perto um terço de toda a célebre obra do mestre de Delft, sobretudo a amada "Leiteira"?

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Por Sheila Leirner
Atualização:

Como as obras são de pequeno porte, ao tentar observá-las de perto - mesmo com poucas dezenas de jornalistas - cheguei a levar uma ou outra cabeçada e algumas cotoveladas. Imagino aquelas salas agora, com várias centenas de visitantes em rodízio. O resultado não poderia ser diferente. Se por um lado, em apenas alguns dias, a exposição obtém um sucesso jamais alcançado, por outro lado é uma catástrofe também inigualável!

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Inventaram a fórmula do "bilhete único" por 15 euros, para ver a Mona Lisa e o resto do museu, com hora marcada para Vermeer. Não adiantou. O povo, enlouquecido, só quer Vermeer. No primeiro dia, 22 de fevereiro, 9 400 pessoas conseguiram "perceber ligeiramente" o holandês. Isso, levando muito mais cotoveladas e cabeçadas do que eu, depois de ficar em pé na fila durante 3 ou 4 horas. Mesmo as grandes exposições do passado jamais atingiram a metade deste número...

Os que conseguiram "vislumbrar" Vermeer tiveram sorte. O resto ficou na porta, mesmo tendo pago o bilhete, sem poder entrar. Até mesmo a bilheteria online teve que fechar. O público gritava, os funcionários do museu corriam de um lado para outro, sem saber o que fazer. E essa bagunça dura até hoje.

O Louvre não está pronto para o turismo desenfreado

Seguindo o exemplo da Fundação Louis Vuitton - cuja mostra "Coleção Chtchoukine" termina no domingo, dia 5, depois de ter recebido 1,2 milhões de visitantes - o Louvre prometeu que tudo entrará nos eixos no dia 6, segunda-feira. Segundo os responsáveis, com as reservas (online) de horários definidos, a espera não excederá 45 minutos. Isto, para quem conseguir um bilhete, é claro. Mas também há a possibilidade de aparecer sem reserva, correndo o risco de esperar... e não ver Vermeer.

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O Louvre, que não está preparado para ataques - nem de terroristas nem de Trump (tuitando mentiras contra o museu e Paris) -, que perdeu 2 milhões de visitantes em dois anos porque 80% deles são turistas, também não está pronto para a massa.

Junto com Vermeer, inauguraram-se duas exposições maravilhosas, uma das quais roubou um enorme espaço vizinho que poderia ter sido dado aos "mestres da pintura de gênero". Estas mostras de Valentin de Boulogne (1591- 1632) e de onze telas de Rembrandt (1606 -1669) na coleção Leiden, deveriam ter sido inauguradas em outro momento. Estão praticamente vazias e se alguém quiser visitá-las, será obrigado a passar pela mesma fila de Vermeer.

Os projetos deste museu são varridos pela voracidade por "grandes nomes" e pelo turismo desenfreado. Culpa da nossa época? Na minha opinião, culpa sobretudo deste museu que não aprendeu a lidar com ela.

Até a próxima, que agora é hoje e dá pena saber que, segundo a previsão, 400 000 verão Vermeer, quando o número de pessoas que pode acolher uma grande instituição cultural como esta, se for bem organizada e equipada, é três vezes maior!

 

 

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