Quando chegaram ao setor dedicado à pintura barroca e aos pintores da Escola holandesa do século 17, e Kroes se afastou um pouco para olhar uma tela que a interessava, Cook passou os quadros em revista rapidamente, sem se deter, até que algo lhe chamou a atenção. Tirou e colocou os óculos, pelo menos três vezes. Pensou que estava tendo alucinações. Mas quando viu que o que via era realmente aquilo que pensava que via, correu para junto de Neelie Kroes e disse:
- Venha! Encontrei uma pintura com um iPhone!
Pegou no braço da senhora, levou-a até a tela e mostrou:
Neelie Kroes ficou boquiaberta, quase deixou cair a bolsa Hermès. Ele arrematou:
- Sempre pensei que sabia quando o iPhone foi inventado, mas agora não estou tão certo.
Dito isto, Cook sacou o seu enorme iPhone 6s do paletó (nunca tinha conseguido enfiar aquele "iPad telefônico" no bolso da calça), tirou uma foto da tela e acabou levando bronca do segurança do museu.
Do tipo que vê Apple até em copo d'água...
Quando voltaram ao festival, ela estava cansada e ele muito contente pensando que já tinha um assunto excepcional para a apresentação inaugural. Clicou na florzinha colorida do ícone "Fotos" no seu iPhone, depois em "selecionar", clicou no envelope com a flecha, e por último em "AirDrop". A foto foi direto para o seu MacBook dourado, onde estava o programa KeyNote da apresentação.
O público aguardava ansioso, e ele começou. Repetiu a mesma história de seu encontro com Rembrandt, disse que "estava chocado com a descoberta de que o iPhone foi inventado há 350 anos", floreou um pouquinho e projetou a imagem do quadro no telão, enquanto todos certamente desconfiavam que ele devia ser do tipo que vê produtos Apple até em copo d'água, um "applessivo" (palavra que acabo de inventar e quer dizer "obsessivo de Apple").
Silêncio embaraçoso no auditório. A foto estava tão fora de foco que ele mesmo teve que admitir que não enxergava nada. E depois, para piorar, apareceu um engraçadinho da chamada geração Y perguntando, claro, "se Rembrandt era impressionista".
Na verdade, o diretor executivo da Apple tinha conseguido repetir o mesmo feito da famosa foto desfocada que ele, por infelicidade, tuitou durante um jogo de futebol, dizendo que era do iPhone. Não tinha do que se orgulhar...
Se fosse só falta de talento, tudo bem. Ninguém tem obrigação de ser um Cartier-Bresson do iPhone. O fato é que um dos participantes do festival, já em casa, resolveu procurar o tal do quadro de Rembrandt no site do Rijksmuseum. Depois de olhar 2 mil e 304 Rembrandts em 192 páginas, segundo ele, resolveu usar a procura pelo Google Images e então descobriu que:
O quadro, pintado em 1670, chama-se Homem Trazendo uma Carta a uma Mulher no Hall de Entrada de uma Casa (Não deixe de clicar!) sendo que o "iPhone" visto por Tim Cook nada mais é do que um simples envelope do século 17, quando o correio nem existia. E a tela citada, ô vergonha!, não é de Rembrandt, mas de Pieter de Hooch, artista bem mais jovem, contemporâneo de Vermeer.
Assim como assim, de gafe em gafe, fica-se gafento.
Até a próxima, que agora é hoje e novo post só na quinta-feira ou em edição extraordinária!