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Arte, aqui e agora

Educação para aqui, para acolá

Na 2a feira, dia 2 de setembro, começa o ano escolar na França. Na volta das férias, como sempre, o clima nas escolas será de euforia e transmissão dos valores republicanos que vêm do alto: liberdade, igualdade, fraternidade, laicidade e recusa de toda e qualquer discriminação. Do outro lado do Atlântico... 

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Por Sheila Leirner
Atualização:
 

Na França, fora das alocações obrigatórias de ajuda a todos os pais, cada família modesta já recebeu este mês do Estado, em sua conta bancária, entre 368,84 euros (1.680,00 reais) et 402,67 euros (1.835,00 reais) por criança, segundo a sua idade, para a compra de material escolar. Se a família é "menos do que modesta", ela tem direito a uma alocação diferencial. Recebem as crianças e jovens escolarizados, entre 6 e 18 anos.

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As escolas são públicas e totalmente gratuitas, desde 1881. O ensinamento público é laico (separado da religião) e a instrução é obrigatória desde 1882, a partir dos 6 até os 16 anos, quando o adolescente pode optar por formações no campo que quiser, entrar na universidade (também gratuita), etc. Como as aulas vão da manhã até à tarde, todas os estabelecimentos possuem refeitórios e as refeições são praticamente gratuitas. Os alunos pagam apenas um preço simbólico por elas.

A escola deve transmitir o conjunto dos valores republicanos através de seus ensinamentos, da vida escolar e do conjunto das ações educativas que ela realiza. Entre estes valores estão: liberdade, igualidade, fraternidade, laicidade e recusa de toda e qualquer discriminação.

O ministro atual da Educação chama-se Jean-Michel Blanquer (1967). É jurista, professor, ex reitor e diretor das maiores escolas, institutos e academias francesas, cientista político, homem de letras e filosofia (com mestrados e doutorados) e melômano, cujo glorioso currículo dificilmente caberia neste espaço. Além da erudição, ele é fino, elegante, engraçado, charmoso, competentíssimo e respeitado por pessoas de todas as sensibilidades políticas, da esquerda até a direita. Junto com o literato (doutor em literatura), escritor e cientista político Bruno Le Maire, ministro de Economia do governo de Édouard Philippe/Emmanuel Macron, Blanquer também é perfeitamente presidenciável.

O Planalto obscurantista enxerga idiotas úteis em estudantes

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No Brasil, o deseducado ministro da Educação, parcamente graduado, ex executivo do mercado financeiro, sem nenhuma experiência neste campo, acaba com bolsas, tira verbas, destrói instituições de ajuda e pesquisa, põe no chão as humanas, demole universidades, explode os estudos e a cultura. Na coluna de ontem, dia 30, como diz Pedro Doria - criador do excelente Canal Meio (que tem um dos melhores newsletters do momento) - "ao invés de promover o encontro entre iniciativa privada e professores universitários, de quebrar o preconceito da academia brasileira com o capitalismo do século 21, o governo estimula o ódio à educação. Quando podia estar criando formas de estimular a geração de patentes e eliminar a burocracia para seu registro, tornar pesquisadores os grandes propulsores da nova riqueza nacional, o Planalto obscurantista os torna inimigos e, em estudantes, enxerga idiotas úteis."

Além disso, o ministro brasileiro da Educação mostra-se grosseiro, escreve mal, comete erros crassos, troca nome de grandes escritores, comporta-se como palhaço, mete-se sempre onde não é chamado, e - como se isto não bastasse - xinga grandes presidentes de maneira cafajeste para chamar atenção, certamente obedecendo ao "Manual Bannon do Populismo para Governos Autoritários e Involuídos", tão apreciado pela ala ideológica do governo brasileiro. Um apanhado prodigioso de declarações e posturas contestadas estão nesta excelente matéria, do dia 23 de julho. Já dá para fazer outra.

Até a próxima, que agora é hoje e sugiro ao ministro de docta ignorantia, um frutífero estágio no Ministério da Educação Nacional em Paris, capital de um país para o qual a Educação é prioridade máxima! E viva a Bic que fez os francesinhos e francesinhas ficarem inteligentes!

Robert Doisneau (1912-1994), Escola da rua Buffon, Paris Vème, 1956.  

 

Henri Cartier-Bresson, 1960. Foto H.C.-B./ Magnum.  

 

Artista conceitual Joseph Kosuth (1945 - ), "Uma e Três Cadeiras", 1965.   

 

 
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