Eu seria a última pessoa a adular cada recente escolhido apontado a um cargo, sem saber ainda do que ele é capaz, mesmo conhecendo o que já realizou. Acho isso deplorável. Apoio é uma coisa, adulação é outra, e reconhecimento... só no final!
Porém, não notei absolutamente que foi chamado "mais um homem" para consagrar alguma presumida "hegemonia branca masculina". O que menos me interessa é o sexo, a cor, a religião ou as convicções políticas de um profissional. Considero ridícula, imbecil e perigosa toda e qualquer posição fundada hoje em ideologias igualitaristas, inspiradas no politicamente correto, que tentam controlar os julgamentos e decisões.
Não aceito nenhuma autoridade, regulamento e juízo, fora os da minha própria consciência. Pedir quota feminina em bienais é uma medida sexista que não é outra coisa senão a afirmação da inferioridade da mulher em relação ao homem. Sim, porque fica parecendo que há algo de errado com as mulheres para que se exija a sua presença em cargos públicos apenas pelo fato de serem mulheres, não é mesmo? Assim como parece haver algo de errado com a cor dos artistas de cinema para que alguns reclamem "quota de negro" no Oscar...
Escolha deve ser por competência e capacidade, não por sexo ou cor. "Quota de negro" e "Quota feminina" são defesas perversas. Enquanto discriminações contra discriminações, são contradições de efeito contrário: impedem a evolução da posição dos negros e das mulheres. Quanto mais recebemos esse tipo de defesa, mais nos tornamos devedores e mais fracos ficamos.
Bem-vindo à curadoria da 33a Bienal de São Paulo "homem branco"!
Antes de ser homem ou mulher, você pertence à raça humana, provavelmente mostrou ser mais competente do que outros (ou, pelo menos, tem mais afinidades com "colecionadores"). Só é pena não ser brasileiro, ainda que conheça arte latino-americana. E também é pena que o seu chefe tenha feito a sua "desautorização pública" antes mesmo de anunciar o seu nome, o que me obrigou inclusive a publicar uma carta aberta a ele. No entanto, não foi só na entrevista ao Estadão que a carroça ficou na frente dos bois. À uma revista, João Carlos de Figueiredo Ferraz testemunhou com o mesmo autoritarismo: "queremos primeiro elaborar um projeto para a próxima Bienal e, a partir disso, conversar com um curador que tenha afinidade com ele." Que se saiba é a diretoria e o presidente da Fundação que precisam ter afinidade com um projeto curatorial, não o contrário.
Até a próxima que agora é hoje e - homem, mulher, negro, branco, índio, judeu, muçulmano, budista, católico, homossexual, bissexual, heterossexual, de esquerda, direita ou centro -, em princípio, a únicas condições para organizar uma bienal é que você conheça, goste profundamente de arte e sobretudo... do público!