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Osvaldinho da Cuíca: "São Paulo esqueceu de seus maiores centenários"

Osvaldinho da Cuíca gosta de ser chamado de sambista. Embora seja um exímio instrumentista e compositor, além de pesquisador, ele quer ser lembrado como homem do samba. "É o que eu soube fazer a vida inteira", disse o artista paulistano, que a exemplo de Martinho da Vila vai estar comemorando aniversário dia 12, sexta-feira de carnaval.

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Por Redação
Atualização:

Quando o país já estiver no clima de sua festa mais popular, Osvaldinho vai estar completando sete décadas de vida. O ex-integrante do histórico conjunto musical Demônios da Garoa, no entanto, diz estar chateado com as escolas de samba de São Paulo, que esqueceram de homenagear grandes artistas nos últimos anos. 

"Infelizmente, muitas delas são manipuladas. Esqueceram de festejar o centenário de grandes nomes do carnaval e samba de São Paulo, como por exemplo, Adoniran Barbosa, Madrinha Eunice, Vadico e Henricão", lamentou o sambista.

Por telefone, Osvaldinho da Cuíca conversou com o Samba de Primeira e relembrou de algumas passagens históricas de sua vida artística.

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ESCOLA DE SAMBAHoje, as escolas de samba são manipuladas. São Paulo esqueceu de seus maiores centenários. No ano passado, a Lavapés deixou de festejar os 100 anos de sua fundadora, a Madrinha Eunice. A minha Vai-Vai deixou de falar, em 2008, dos 100 anos de nascimento de um de seus fundadores, o Henricão. E, neste ano, esqueceram do Adoniran Barbosa e também do Vadico, maior parceiro musical de Noel Rosa. Sem o Vadico, paulistano do Brás, tenho dúvidas se a obra do Noel seria a mesma. Uma pena. Perderam uma grande oportunidade.

VAI-VAI Cheguei na escola em 1972, junto com o mestre de bateria Tadeu. Neste período, a escola era predominante de negros. Entraram uns 100 brancos na agremiação, entre eles, eu. Ajudei a transformar o Vai-Vai de cordão para escola*. Tinha um prestígio grande na época porque era integrante do Demônios da Garoa. Não saia da televisão e do rádio. Como tocava em uma casa do Bexiga, me chamaram para entrar na agremiação. Levei instrumentos de corda para bateria. Sou o fundador e primeiro presidente da ala de compositores da escola. Ganhei cinco sambas-enredos e fomos campeões de três. O Vai-Vai é uma comunidade, que se tornou uma religião. Hoje, sou turista lá. Não sou atuante como gostaria.

*Em 1972, o Cordão Vai-Vai, se transforma em Escola de Samba Vai-Vai. Alguns se referem à escola até hoje como Cordão Vai-Vai, por isso o artigo masculino

DEMÔNIOS DA GAROATive três passagens pelo conjunto: 68 a 70, 80 a 83 e 93 a 99.O Demônios foi durante muitos anos o maior conjunto musical do Brasil. É um dos maiores representantes da cultura paulistana. Faz parte de nossa tradição, já que surgiu a partir da década de 40. Tenho muito orgulho de ter participado do conjunto em diversas fases. Tenho saudades, principalmente da primeira. Era um grupo muito criativo. Éramos imbatíveis.

ADONIRAM BARBOSAConvivi muito com ele. Trabalhamos juntos na TV Record. Quem criou o Adoniran foi o maior cronista de todos os tempos de São Paulo, Osvaldo Molle. O Adoniran era uma pessoa muito engraçada e pacífica. Nunca vi falar mal de ninguém. Era um grande boêmio, gostava de uma bebidinha e era mulherengo. Um genial compositor.

NOEL ROSARepresenta a inovação do samba. Ele foi responsável da transição do maxixe para o samba. Ele e o Ismael Silva (sambista e fundador da Deixa Falar, hoje Estácio de Sá, no Rio de Janeiro), sedimentam o samba. Esse samba carioca que se tornou universal. Antes era o maxixe, um samba baiano. São dois gênios. Do violão dos dois surgiu um ritmo musical que ganhou o mundo. Precisa falar mais alguma coisa?

CARNAVAL DE SÃO PAULOEvoluiu muito na parte empresarial, na parte de espetáculo e também da criatividade. Porém, algumas escolas tradicionais, por não terem uma direção forte, não se modernizaram. Uma pena ver Nenê da Vila Matilde, Unidos do Peruche e Camisa Verde e Branco na situação onde elas se encontram (as três vão disputar o Grupo de Acesso).

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