Moacyr Luz: "Não sou de restaurante, sou de botequim"

Ele é a cara do Rio de Janeiro, mas não esconde sua paixão por São Paulo. "Devo muito da minha carreira a essa cidade", vai logo avisando Moacyr Luz, o Moa, para os mais íntimos. Compositor, cantor, escritor, exímio violonista e ex-biriteiro dos fortes (hoje ele jura só tomar vinho), Moa fez parte do timaço da "Esquina Carioca", série de shows que fez história na capital paulista e ainda contou com as presenças de craques do samba como Beth Carvalho, Dona Ivone Lara, Walter Alfaiate e os saudosos João Nogueira e Luiz Carlos da Vila.

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Por Redação
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"Era um show pequeno e sem grandes pretensões. Tinha um caráter intimista, mas que foi crescendo. Daí, fomos obrigados a levar o espetáculo para uma casa que comportasse mais gente", recorda o sambista, que também foi o criador do Samba do Trabalhador, projeto que leva mais de mil pessoas na zona norte do Rio em plena segunda-feira.

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O ano que a turma da "Esquina Carioca" estreou na paulicéia desvairada foi em 1999.

Mais de uma década se passou, Moa ainda não esconde a saudade daquele tempo. Tanto que no último sábado, dentro do projeto "Fulô Confete - Grito de Carnaval", Moacyr Luz voltou para o palco de onde tudo começou: o bar paulista com mais alma carioca da cidade, o Pirajá. "Aqui me sinto em casa. Canto pertinho do público. Não tem coisa mais gostosa do que isso para o artista", diz Moa, considerado por muitos como o principal parceiro do genial Aldir Blanc. Juntos, os dois fizeram mais de 100 canções, entre elas, Saudades da Guanabara, que virou um hino para o carioca.

Voltando ao show da tarde de sábado, esse sambista com pinta de tijucano - Moa nasceu no bairro de Jacarepaguá -, realmente parecia estar cantando em casa. Cumprimentava seu público com peculiar atenção e chamava alguns, inclusive, pelo nome. Não hesitou em pedir para o garçon um cálice de vinho para começar a festa. Foi apenas a primeira taça de muitas que ainda viriam pela frente. O sambista carioca chegou a capital paulista debaixo de um sol infernal. Rapidamente se ajeito na cadeira, puxou seu violão e começou a tocar clássicos do nosso samba.

Logo de cara, puxou "A Voz do Morro", de Zé Keti. Do seu lado esquerdo, a companhia de Carlinhos Sete Cordas, parceiro que vem se tornando constante em todos os seus shows. Uns dois metros mais a esquerda, estava a figura doce de Tia Surica, uma das damas da Velha Guarda da Portela. Ela foi um show à parte. Os três passaram o sábado cantando - foram mais de três horas de show. Fizeram o público, principalmente os mais jovens, viajar e imaginar como eram os pré-carnavais de tempos atrás.

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Em tempo, embora seja torcedor da Mangueira, Moa não é muito de escolas de samba. "Nunca desfilei. Mas todo ano vou ao Sambódromo. Fico na cozinha, lá no terreirão. Vou à concentração, dou um abraço nos meus amigos, bebo umas e outras e depois vou embora. Não sou muito de restaurante, sou de botequim", explica com bom humor, tentando justificar seu lado mais simplório.

Ao certo é que Moa, mesmo não sendo muito chegado ao carnaval e a alheio às badalações comuns dos grandes artistas, faz um um bem danado para nossa música e é hoje, sem dúvida alguma, um dos maiores sambistas de nosso país.

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