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Desculpe a poeira - Sugestões de leituras e outros achados

Reportagem a distância

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Por Ricardo Lombardi
Atualização:

"Não vai dar certo. E se der certo é porque algo está errado.

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Um dia desses, James Macpherson, dono do jornal online Pasadena Now - da cidade do mesmo nome, com 140 mil habitantes, a menos de 20 quilômetros do centro de Los Angeles - demitiu os seus sete empregados americanos, entre eles cinco repórteres a quem pagava cerca de US$ 2.800 mensais, e os substituiu por seis indianos.

Que moram na Índia.

É isso mesmo. Ele terceirizou para o outro lado do mundo, a 10 mil quilômetros de distância, a cobertura de sua cidade.

Os free-lancers indianos, que aceitam trabalhar pela miséria de US$ 7,50 por mil palavras de texto, foram contratados a partir de anúncios - na internet, claro. Um deles, no caso uma mulher de Mysore, no sul da Índia, nem se considera jornalista. 'Eu tento fazer o melhor, mas nem sempre acerto', admitiu ela à colunista Maureen Dowd, do New York Times, que conta a história no jornal deste domingo, 30.

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A 'repórter', por exemplo, imaginou que Rose Bowl fosse um evento gastronômico (Bowl é terrina, prato fundo) e não um importante acontecimento esportivo em Pasadena (Bowl é também estádio).

Mas como é que funciona?

Pautados por Macpherson e sua mulher, os terceirizados apuram o que se lhes pede, falando com as fontes por telefone, skype e e-mail, depois de mergulhar nos sites e blogues de Pasadena. Na internet eles também pegam press-releases, dados e entrevistas, além de acompanhar as transmissões ao vivo da Câmara Municipal.

Com isso eles acompanham desde o trivial variado, como a inauguração da árvore de Natal da cidade, aos assuntos mais quentes, como os debates na Câmara sobre a proibição do uso de sacolas plásticas por lojas e supermercados.

Todos, naturalmente, falam e escrevem inglês fluentemente. Nenhum jamais pôs os pés em Pasadena.

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Para Macpherson, tanto faz como tanto fez. Ele diz que o seu jornalismo é 'g-local'. O gê é de global. Reconhece que o seu jornalismo a distância é menos acurado que o tradicional, em papel ou online. 'Alguma coisa se perde', concede, mas acha que isso é detalhe. A propósito, ele está convencido de que muitos jornais impressos são cadáveres ambulantes e que o negócio é investir em alternativas menores, mais ágeis e 'internetcêntricas'. 'Precisamos todos nos preparar para o inevitável', profetiza.

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É o que parece achar também o presidente do conglomerado de comunicação MediaNews Group, Dean Singleton, dono de 54 diários americanos, entre eles um de Pasadena e o mais conhecido Denver Post, do Colorado. Ele disse numa conferência que a idéia da empresa é terceirizar praticamente todas as atividades relacionadas à produção jornalística.

'E se tiver que terceirizar para o estrangeiro, que seja', deu de ombros. 'No mundo computadorizado de hoje, se a sua mesa fica no fim do corredor ou do outro lado do planeta, isso não tem a menor importância'.

Para o que essa gente deve entender por jornalismo, claro que não tem."

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