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Desculpe a poeira - Sugestões de leituras e outros achados

Abaixo da linha de pobreza

Por Ricardo Lombardi
Atualização:

Circular: "Abaixo da linha de pobreza", de Zulmira Ribeiro Tavares

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"Ora vejo a linha de pobreza no contorno irregular dos prédios, altos, baixos, ou das pequenas casas de autoconstrução na encosta dos morros.

A linha que mais me atinge é a reta, que vai de um ponto a outro sem desvio. Sei que nela há números. Quais, não sei. Ainda que não tenha cor, peso, e tangencie o invisível, é forte. Li a propósito.

Considero a linha do horizonte a que mais se aproxima do que imagino ser a linha de pobreza. Da cidade, ver o horizonte é difícil, ou se apresenta com defeito. Rememoro-o distante, no fim do mar. Deve ser de lá que a retiram, a linha de pobreza, com régua e compasso: para raciocínio e ação. Pois impossível que não exista primeiro na paisagem, material, resistente. Tem de existir, como certas fibras arrancadas à natureza para com elas se fazer feixes, relhos, assim como servem de enfeite as penas de belas aves.

Verdade que ao longo da vida passaram-me diante dos olhos gráficos estampados em folhas de jornal. Alguns diziam respeito à linha de pobreza. Neles, seu traçado não remetia ao limite que se tem do mar, longe, e por vezes mesmo delineou o contorno de ondas crespas e próximas ou, além, de escarpas, promontórios... Puras formas da física terrestre, impetuosas, dramáticas, tocando o interior dos homens de modo diverso ao da linha do horizonte -- que os acalenta com o sono, a tranqüilidade ou a morte.

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Abaixo da linha de pobreza não me chegam idéias."

(Publicado na revista Piauí, fevereiro de 2007);

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