Circular: "(...) A tatuagem é meio que um gesto de desespero contra a impermanência. O cara vê tudo mudar tão rápido, tudo tão fora de seu controle, seja na vida real ou na virtual, que se sente tentado a criar uma espécie de site com páginas fixas. Na própria pele, impregnando-a de tinta. Oferece o próprio corpo em sacrifício para poder contar com um ponto de referência ao acordar amanhã: algo não mudou enquanto ele dormia. E também não sai com água e sabonete.
Pela mesma razão, acho eu, o pichador não picha coisas móveis (veículos) ou transitórias (tapumes, outdoors) e prefere rabiscar muros e fachadas. Ele tem medo de acordar amanhã e já não encontrar suas próprias marcas no mundo. Todos nós temos medo, aliás."
(Renato Modernell, "Na Pele, nos Muros". A foto eu peguei aqui).